Welcome to the era of virtual relationships

Quando seremos uma cidade sem fios. Quem será que foram os gênios que taparam os rios com prédios e o céu com cabos? Tantos quilômetros de cabos servem para nos unir ou nos manter afastados? Cada um em seu lugar. A telefonia celular invadiu o mundo com a promessa de te deixar conectado sempre. Mensagens de texto. Uma nova linguagem adaptada para dez teclas que reduz nossas línguas mais belas a um vocabulário primitivo, limitado e sem cultura. O futuro está na fibra ótica e no céu limpo. Dentre tantas vantagens eles prometem que você vai conseguir ajustar a temperatura da sua casa mesmo estando no trabalho. É claro que eles já sabem que não tem ninguém te esperando com a casa quentinha. Bem vindo à era das relações virtuais.”

Medianeras, filme

A noite foi ótima. Rimos um tanto. Conversamos um pouco. O sexo não foi o melhor, mas também não foi o pior. Nossos corpos se adaptaram rapidamente ao primeiro contato e aliviamos o estresse da semana numa cama amarrotada de motel. Na hora da despedida demos um selinho, um até logo e um abraço meio sem jeito que já dizia o que iria acontecer depois dali: Eu não ligaria. Ele não me procuraria.

Havia sido um encontro casual. Uma noite de sexo sem maiores expectativas. Um match, algumas poucas mensagens e um tesão de um dia quente de verão.

Sim… Instalei o Tinder no meu celular. Passei o dedo por perfis, vi fotos e mais fotos, li algumas frases de efeito, vi amigos em comum, conheci pessoas legais, desencantei de outras tantas… Alguns nem lembro mais de ter ‘dado match’. De alguns ainda lembro, mas nada relativamente importante para a memória afetiva, se é que me entende…

Pelos amigos que usam, queria conseguir gostar, sabe? Mas ainda é tudo muito plástico para mim. É tudo muito supermercado. Me sinto escolhendo um produto, um abdômen sarado, um sorriso bonito, um papo legal… Me sinto ao mesmo tempo sendo julgado pela foto que escolhi colocar no perfil, da frase que coloquei ou não e das poucas palavras que troquei.

E de match em match parece que vamos nos tornando cada vez mais casuais, mais fugazes, mais individualistas e carentes. Se você for um pouco observador perceberá que as conversas, geralmente desses aplicativos, giram em torno do ‘EU’ em caps e primeira pessoa. É você, você, você… Não importa o que o outro faz, mas sim o que ele pode te dar em troca e como você está sendo visto ou seria se vendendo?

Estou equivocado? Estou generalizando? Talvez esteja. Mas me sinto assim nesses aplicativos. Me sinto colocando em prática tudo que aprendi nas aulas de marketing por uma noite de sexo com um abdômen sarado. Talvez eu também seja antigo para essas modernidades de pegação e namoro virtual. Na verdade não tenho muita paciência para aquela conversinha: Fala de onde? Procura o que? Gostei da sua foto. Você parece ser interessante…

É tudo tão na superfície. É raso, sabe? Não completa. Até preenche por um momento, mas não é arrebatador. A verdade é essa, não é arrebatador e eu gosto de ser arrebatado. Gosto de ter vivido histórias. É como Ivan Martins já falou: “Cada vez que a gente começa um namoro, abre-se para nós um mundo novo de ideias, pessoas, passeios e possibilidades. É a vida dos outros que chega arejando a nossa vida.”. E eu adoro isso… E falta isso nos novos relacionamentos embalados pelas novas tecnologias.

São encontros que não passam da superfície. É como estar com um cubo de gelo enorme na frente e apenas um martelinho em mãos. Você quer quebrar,  sabe que tem algo ali dentro que você precisa descobrir o que é, quer chegar ao centro, passar da superfície, mas por mais força que você faça, só arranha o gelo e aquilo vai se tornando cada vez mais cansativo.

Tudo nesses novos meios de relacionamento é exaustivo e sem contar que é meio angustiante.

 

Somos uma geração de amores fugazes, nem um pouco furiosos, nem um pouco densos. A gente põe bóia no braço pra mergulhar em alguém e ainda jura pros outros de pés juntos que adoraria ser puxado pra baixo com âncora no pé. Dividimos a atenção em possíveis amores, possíveis nomes a serem decorados com prazo de validade. O nosso amor se transformou em duas setas indicadas numa mensagem nunca respondida.

Eu Coleciono Listas Telefônicas Vazias, Daniel Bovolento para o blog Entre todas as coisas

(…) Concluí que esses encontros são como combos do McDonald´s. Nas fotos tudo é melhor, maior e mais apetitoso. Cada vez que vou a um encontro sofro a mesma decepção que frente a um Big Mac.

Medianeras

É exatamente assim que me sinto no Tinder e aplicativos semelhantes. É como comer no McDonald’s. Satisfaz por um momento, mas uma hora depois já estou com fome novamente. É como estar constantemente comprando algo pela foto, comendo com os olhos e nunca estando realmente feliz. É preencher a agenda do celular com números e nomes que nunca deixaram de serem apenas isso, números e nomes.

 

Será que o futuro dos relacionamentos está na era digital?

O que será do romance com a troca de matchs? Vai ser extinto ou se adaptar à modernidade?

M.P., janeiro de 2015. Uma carta e alguns dilemas de uma era digital de relacionamentos rasos e matchs.

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