Sobre a brevidade da vida

Os livros do filósofo espanhol Sêneca sempre me chamaram atenção por conta dos títulos – Sobre a brevidade da vida, Da tranquilidade da alma, Aprendendo a viver. Mas nunca tive iniciativa para lê-los, até que fiquei motivada a partir de uma leitura coletiva organizada pela Fernanda Oliveira, doutoranda em Filosofia.

Li Sobre a brevidade da vida com a sensação de que estava levando alfinetadas filosóficas para reagir (de cropped ou não) e repensar como estou vivendo, para onde está indo meu tempo, com o que estou investindo a minha energia. 

E trago as alfinetadas filosóficas para cá:

Será que estamos realmente vivendo ou esperando o momento perfeito para viver algumas experiências? Será que estamos mais preocupados com nossa vida ou estamos mais preocupados com a vida alheia? Para onde está indo nosso tempo e energia?

A ideia da brevidade da vida vem do que fazemos com o nosso tempo. Se desperdiçamos com o que não é realmente relevante para nós, nunca vamos aproveitar e realizar o que queremos. E isso nos leva a cultivar a ideia de precisar de mais tempo para viver. Sêneca diz que “Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela.” 

O filósofo nos chama para viver determinadas experiências agora e não apenas deixá-las para a aposentadoria, por exemplo. É uma proposta de “aprender a viver por toda a vida”. Sêneca comenta que os adiamentos nos tira o dia a dia, nos rouba o presente. As expectativas criadas nos levam a apostar tudo em um futuro que não saberemos como vai existir. 

Apenas aquilo que realmente fazemos, para o bem ou para o mal, é o que podemos ter certeza. Não dá para recuperar o passado, mas ele também não deve ser esquecido. No mínimo, devemos tirar pequenas lições. E o futuro é duvidoso. 

Todos esses questionamentos sobre a brevidade da vida são envoltos na ideia de que muitas vezes nos ocupamos tanto e isso nos afasta do real viver. O autor diz que é “brevíssima a vida dos homens ocupados”. Devemos desconfiar da “falsa operosidade e da fútil agitação”. Afinal, homens ocupados “não podem se dobrar sobre si próprios, não podem se contemplar”. 

“Homens ocupados”, do Sêneca, me lembra do sujeito do desempenho e da produção que Byung-Chul Han traz no livro Sociedade do Cansaço. Um sujeito que se auto explora e tem como algumas das consequências o burnout, a depressão, a autoagressividade e o suicídio. 

Uma característica do sujeito do desempenho e da produção é a hiperatenção, uma atenção dispersa, com rápida mudança de foco e tolerância baixa para o tédio. O tédio, para Byung-Chul Han, com base em Walter Benjamin, é o descanso espiritual que pode nos colocar em um estado contemplativo, de recolhimento, um olhar mais atento para si e para as coisas do mundo.

Sêneca comenta em sua obra a dificuldade que há dos “homens ocupados” em lidar com o ócio. Quando não há o que fazer, os “homens ocupados” se sentem inquietos e muitas vezes se colocam para fazer qualquer atividade para ocupar um momento que poderia ser para o descanso espiritual. Eles “transitam de um prazer para o outro sem permanecer em apenas um desejo.” 

Sujeitos do desempenho e da produção ou “homens ocupados”, lembremos dessa vida breve, que no atual momento podemos pensar também a partir de outras infelizes perspectivas, além da ocupação, tempo e energia. 


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Sobre a Brevidade da vida

Sobre a brevidade da vida no Kindle Unlimited

Sociedade do Cansaço

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