Nascido em Mato Grosso, Manoel de Barros morreu aos 97 anos, em 2014, e ao longo da sua carreira literária publicou 28 livros e ganhou 13 prêmios.
Meu encontro com o poeta Manoel aconteceu no Tumblr (pois é!). Passei alguns anos da minha vida digital no microblog. Adorava aquele espaço onde tudo era poético, bonito, inspirador. E foi lá que encontrei uma frase que mudou minha vida (sem exagero) e me tornou fã do poeta. O trecho era do poema As lições de R. Q. que diz assim: “o olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo.”
Quando li o poema completo, aceitei o convite de Manoel para ver mais poesia no mundo e para buscar sair das dicotomias, do óbvio, do naturalizado, das verdades e regras prontas.
📝 AS LIÇÕES DE R.Q.
“Aprendi com Rômulo Quiroga (um pintor boliviano):
A expressão reta não sonha.
Não use o traço acostumado.
A força de um artista vem das suas derrotas.
Só a alma atormentada pode trazer para a voz um
formato de pássaro.
Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
Isto seja:
Deus deu a forma. Os artistas desformam.
É preciso desformar o mundo:
Tirar da natureza as naturalidades.
Fazer cavalo verde, por exemplo.
Fazer noiva camponesa voar – como em Chagall.
Agora é só puxar o alarme do silêncio que eu saio por
aí a desformar.
Até já inventei mulher de 7 peitos para fazer vaginação
comigo.”
Se quiser conhecer mais um pouco de Manoel, veja o documentário Só dez por cento é mentira disponível no Telecine.
Boa semana!