Sempre fui de namorar. Já tive cinco namoros desde os meus 18 anos. Alguns duraram por longos meses e outros pelo tempo de um verão. Alguns passaram exatamente como um dia de sol, quentes pela corrente sanguínea, ardentes na pele e silenciosos em suas despedidas como o entardecer.
Mas de todos, existiram três que me arrebataram… Às vezes o amor é devastador. Parece uma onda gigante da qual a gente não consegue escapar. Apenas estamos lá, sentados à beira da praia, curtindo a vida e ele chega sem avisar, nos engole em seu ímpeto, nos revira de ponta cabeça, nos faz tropeçar, nos entorpece, nos embriaga, nos destrói com a força de um Tsunami.
Fui invadido algumas vezes por essa força além das minhas expectativas. Nunca estamos esperando uma onda nos engolir, revirar e ir embora. Nunca estamos esperando aquele amor do tipo destruidor, devorador, desconcertante, inquietante e imenso. Nunca estamos preparados para algo que nos tire do sério, nos tire do chão, nos sacuda, revire nosso estômago atrás de borboletas, inebrie nosso coração como o canto de uma Sereia.
E eu tive três amores desse tipo… Três amores distintos que chegaram com a força de um Tsunami, me varreram da minha vidinha, me tiraram de lugar, me empurraram em direção a um novo mundo… Me devastaram sem pedir licença e me fizeram quem hoje sou.
Depois que a tempestade passa e o mar se acalma… A gente não é mais o mesmo. Nos tornamos um pouco de quem passou por nós. Nos tornamos uma soma de consequências. Nos tornamos as escolhas que fazemos no decorrer dos dias. Nos reconstruímos como se fôssemos uma casa, tijolo por tijolo, sentimento por sentimento… Crescemos com a força de uma devastação. Crescemos na dor. Crescemos na delicadeza de um sentimento que toma conta da gente, nos faz sorri nos momentos mais inesperados, nos arrepia de emoção, nos embrulha o estômago de ansiedade, nos faz roer as unhas, nos enche de orgasmos e exaustão…
E hoje com 26 anos, nove anos após o meu primeiro amor… Descobri que vale a pena amar quando o amor é devastador, quando nos destrói com a força de um Tsunami e nos obriga a sermos mais do que éramos. E como já cantou Thiago Pethit: “Você foi o mais perto que eu cheguei de morrer”.
Não queremos e nem gostamos de viver no marasmo, no mesmo lugar a vida toda… É bom por um momento, mas não para sempre. O amor só vale a estadia quando transborda, nos leva em uma aventura sem expectativas, nos enche de possibilidades e ao engolir a gente com a força de uma onda gigante, desenha bem no fundo do coração, em forma de tatuagem uma saudade cheia de lembranças que fica para sempre em nós.
Aprendi com três amores devastadores que por maior que sejam, por mais medo que tenhamos quando eles nos destroem e somem em silêncio pela porta da frente, que não há nada melhor do que mergulhar em um sentimento como esse. Não há nada melhor do que nadar em nossos escombros, em nossa própria história, em nossos próprios erros, em nossas escolhas… E descobrir como um turista admirando a beleza natural dos corais em uma viagem em alto mar, que somos feitos das consequências, dos acasos, dos casos e dos amores que vivemos.
Somos como navios. Às vezes precisamos de reparos no casco. Às vezes fazemos curtas viagens, parando de porto em porto. Ou viajamos uma vida inteira sem trocar de tripulação. Em alguns momentos parece que vamos afundar. Em alguns casos até afundamos e ao ficarmos lá, submersos, quase sem vida… Descobrimos que aos poucos vamos virando outra coisa, viramos moradia de novos seres, nos adaptamos ao novo ambiente, nos descobrimos em nossa própria história, nos reinventamos…
E o amor tem essa força, destruir, arrebatar, tirar o ar, transformar, fazer a gente morrer e reviver como se fôssemos invencíveis!
Aracaju, em alguma madrugada de insônia de 2014
P.S.: Sem saudade ou amor, não teríamos história, começo ou fim… Não teríamos recomeços!