No dia 27 de fevereiro realizamos a 2ª edição do Leia Mulheres Salvador. O livro discutido foi A Amiga Genial, da italiana Elena Ferrante. Fui para encontro com apenas 52% da leitura feita. Fevereiro foi mais um mês agitado e não consegui ler muito. Fora que o início de A Amiga Genial não me empolgou tanto. Mas, mesmo assim, resolvi ir ao clube para conhecer o pessoal e ouvir o que tinham para falar. Apesar de ter sido inundada por spoilers sobre a leitura, eu fiquei muito contente por ter ido.
O poder do clube de leitura é unir no mesmo espaço pessoas tão diferentes, com bagagens de vida tão distintas, mas que estão ali por causa de um livro. E cada pessoa leva pro momento de encontro o que conseguiu captar da leitura, as inspirações, inquietações. É preciso até ter coragem de sentar em uma roda e deixar ali, no meio de rostos poucos conhecidos, tudo que a leitura da obra nos causou. Digo isso porque minhas leituras não são apenas técnicas. Elas são, principalmente, uma experiência pessoal. A cada leitura que faço, me encontro mais.
Leio como terapia. Leio para preencher vazios, para conhecer outros mundos, outras pessoas. Para ser mais flexível, para ter mais empatia. Então, acredito que a partir do momento que paramos em grupo para conversar sobre um livro, estamos deixando ali, nas entrelinhas, um pouco de nós, do que pensamos sobre a vida no geral. É uma troca intensa e rica. Você entra com uma ideia e, se deixar sua mente flexível, pode sair com outra totalmente diferente. E isso é tão bom e necessário nos dias de hoje.
A Amiga Genial
Eu entrei na roda com apenas 52% da leitura concluída mas sai de lá com 100% de ideias novas na cabeça. E uma vontade imensa de finalizar A Amiga Genial para ler com calma cada momento da vida de Greco e Lila, personagens principais do livro, que havia motivado discussões sobre amizade, amor, o papel da mulher, violência doméstica, sociedade patriarcal, feminismo e a falta de sororidade.
E foi o que fiz. Cheguei em casa, tomei banho, preparei um café e finalizei a leitura. O primeiro livro da tetralogia Napolitana é narrado por Elena Greco e conta a vida dela e de sua amiga, Raffaela Cerullo, a Lila, da infância até os 16 anos, na cidade de Nápoles, na década de 1950. Logo no início, sabemos que Lila desapareceu sem deixar vestígio e, a partir disso, Greco começou a escrever tudo que ficou na memória sobre a história da amizade de quase sessenta anos.
A amizade entre elas nem sempre foi flores. Ao contrário, em alguns momentos não sabemos se são amigas ou “inimigas”. A verdade era que uma motivava o melhor e o pior da outra. Os 16 anos contados por Greco são anos difíceis sobre o crescimento de duas jovens em um bairro pobre, machista e violento. E a escrita de Elena Ferrante para tudo isso é seca, dura, sem muito rodeio mas que te prende.
A autora não emociona com palavras bonitas e citações sublinháveis, mas sim com situações tão reais, que podemos encontrar até mesmo na nossa família. Elena realmente nos coloca para pensar sobre os privilégios da vida. Às vezes o mundo dá oportunidades, mas quando não, a gente precisa fazê-las, se quisermos seguir adiante. Na verdade, são tantos os assuntos que Elena nos faz pensar, que pelo título não temos noção da riqueza existente numa história sobre amizade. E o livro termina deixando todo mundo na expectativa do próximo. Afinal, aos 16 anos, como dizem por aí, a vida está só começando.
Citações
“E você? Estudou?”
“Não.”
“Então por que sua irmã, que é mulher, precisa estudar?”
Logo precisei admitir que as coisas que eu fazia sozinha não eram capazes de disparar meu coração, só aquilo que Lila tocava se tornava importante. Se ela se distanciava, se sua voz se afastava das coisas, estas se cobriam de manchas, de poeira.
Havia algo de insustentável nas coisas, nas pessoas, nos prédios, nas ruas, que somente reinventando tudo, como num jogo, se tornava aceitável. Mas o essencial era saber jogar, e eu e ela, eu e ela apenas, sabíamos fazê-lo.
Se não há amor, não só a vida das pessoas se torna árida, mas também a das cidades.
“Não quis lhe dizer uma coisa ruim. Queria apenas dizer que você é ótima em atrair o amor das pessoas. A diferença entre mim e você, desde sempre, é que de mim as pessoas têm medo, de você, não.”
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Viviane
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