Contar a verdade sobre o seu câncer é a pior coisa que você pode fazer para as pessoas. Elas precisam ouvir algo que não as deixe em uma situação difícil. Afinal de contas, não podem fazer nada a respeito. A partir de agora, diga sempre: Estou bem! Assim elas também se sentirão bem. (pags 21-22)
Em Minha lista de prioridades (Editora Paralela, 2014), David Menasche ao narrar a sua história de vida a partir do momento em que fora diagnosticado, aos 34 anos, com um câncer no cérebro, nos provoca reflexões das mais diversas acerca da vida. No meu caso, em particular, para além da complexa dualidade da vida vs. morte e vice versa.
Tenho aprendido a cada dia e a cada nova leitura, que algumas leituras têm seu tempo e ritmo para acontecerem. É nessa perspectiva que venho despreocupadamente realizando a leitura desta obra. E que creio que o mês em que se comemora o dia do Professor é oportuno para compartilhar algumas das inúmeras inquietações e reflexões que esta leitura tem me provocado.
Eu nasci para ser professor. Mas só descobri isso na faculdade. (…) Um dos meus professores prediletos me convenceu a me inscrever no Programa para Professores e Escritores. (…) Quando terminaram, haviam feito um poema! Eles começaram a pular de alegria, com a mesma satisfação e felicidade que eu senti ao vê-los aprenderem. E foi isso. Não teve volta. Esse foi o momento em que descobri que queria ser professor. (pags 29;32)
Na primeira parte (embora a obra não esteja assim dividida), Menashce irá nos contar como se tornara professor e como vive a profissão. A compreensão desse fato é crucial para que se consiga ter uma noção, ainda que superficial, do tamanho do baque que foi para David quando não mais pode exercer o seu papel de professor.
Para mim, é nesse momento que de fato o câncer afeta a vida de Menashce. A constatação de que não mais poderia ministrar suas classes teve maior impacto sobre David que o próprio diagnóstico de um câncer no cérebro. É justamente nesse momento que David Menashce se debruça sobre si mesmo e, refletindo sobre a vida e a morte, dá início a sua lista de prioridades.
Esse momento marco da vida de Menashce se constituiu num gatilho detonador que dera início a uma das minhas constantes reflexões filosóficas e crise – profissional e existencial: ser ou não ser professor.
Nunca quis ser professor. E, como toda criança, sonhei ser médico, veterinário, advogado, cobrador de ônibus, caminhoneiro, policial, bombeiro, etc. Mas nunca professor. Mas a vida – não sei dizer se destino ou carma – escolheu esta profissão para mim. No decurso desses 15 anos de exercício do magistério tenho buscado sempre dar o meu melhor. E quão casamento à moda antiga, com o passar dos anos, aprendi a gostar do oficio. Às vezes chego até a pensar que é amor. E, hoje, vivo essa relação aos tapas e beijos. Por vezes, chego a pensar que o câncer que me corre se chama educação.
No mês em que se reserva um dia para “dedicar ao professor”, as reflexões – atreladas à leitura dessa literatura – adquirem um caráter singular. E nos últimos anos uma pergunta tem sido recorrente: o que temos para comemorar neste dia? O que de fato temos é digno de alguma comemoração? Não seria esta só mais uma data capitalista a fim de atender aos interesses da grande burguesia (indústria)?
Sempre acreditei que alguém que tem um ‘porquê’ viver consegue descobrir o ‘como’. (pag 108).
Até me identifico e comungo com Menashce de alguns valores, posturas, pensamentos e modo como este concebe e exerce o ser professor. Mas não creio ter nascido para tal – embora o seja da melhor maneira possível. Talvez ainda falte descobrir/entender o “porquê” viver.
Certamente Minha Lista de Prioridades me conduzirá a pensar na vida presente a partir de reflexões acerca da morte. Mas no exato momento é a busca pelos “porquês” de se viver, na tentativa de descobrir “como” conduzir essa trajetória é que esta literatura tem prestado às suas contribuições.
Neste mês não vou listar as minhas conclusões – até porque não as tenho – sobre as reflexões do ser ou não ser professor. Simplesmente me dedicarei ao sublime exercício do ócio por inteiro. E, assim, oportunizo (e convido ao mesmo tempo) você a se permitir – ainda que por alguns poucos instantes – essa reflexão: Ser ou não ser professor na atual sociedade?
Como Ericsson escreveu em seu ensaio: ‘Mentimos. Todos nós mentimos. Exageramos, minimizamos, evitamos o confronto, poupamos as pessoas, esquecemos, escondemos, justificamos as mentiras para as instituições. Como a maioria das pessoas, eu me permito pequenas mentiras e ainda assim me considero uma pessoa honesta. Claro, eu minto, mas não faço mal nenhum. Ou faço?’ (pag 63)
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