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Acredito que as memórias mais significativas da vida são criadas no cotidiano. Claro que os momentos excepcionais marcam. Mas eles são excepcionais. De certa forma, possuem o intuito de deixar lembranças boas e inesquecíveis. Inclusive é pensando em sair da rotina que planejamos viagens, passeios e buscamos criar novas experiências. Há expectativa da possibilidade do excepcional.
Mas o cotidiano… Ele está sempre aí. Para muita gente é mais do mesmo. E é no mais do mesmo que a memória se cria.
Atualmente, estou morando em uma casa com quintal. Considero isso um sonho para quem viveu os últimos dez anos em apartamento. Cresci em casa com quintal. Minhas vizinhas, na infância, sempre tiveram casas com quintais. Lembro de brincarmos muito e de subir nas árvores. Em especial, no pé de acerola para comer a fruta ainda um pouco verde com sal. Teve a vez que pintei meu rosto com pasta de dente e batom vermelho para me caracterizar de palhaço pois tínhamos montado um circo no fundo do quintal da casa de Vó. Também me recordo de fazer cera caseira para depilação e de me depilar no quintal de Mainha, na adolescência, com as amigas. Uma depilava as pernas e as axilas da outra. Memórias de quintais. Nada disso era excepcional. Era o nosso cotidiano tecido com um pouco de criatividade e de liberdade. O excepcional para gente era sair disso tudo e ir para a praia, algo que fazíamos durante as férias e esperávamos com muita empolgação.
Durante a pandemia, nos anos de 2020 e 2021, fiquei um período na casa dos meus pais que tem um pequeno quintal. Algo mais para área externa, mas ainda assim um espaço ao ar livre. E foi para esse espaço que recorri quando o isolamento social apertou. Arrumei uma cadeira de praia com minha Vó (não faço ideia porque ela tinha uma mas que bom) e todo dia pela manhã sentava no quintal para ler algum livro. No final de tarde, quando o calor apertava era para lá que corria. Observava as plantas, ouvia o som da rotina da vizinhança, fiz amizades com as lagartixas e respirava. Ter esse espaço fez muita diferença durante o período pandêmico.
Tenho uma outra memória cotidiana do tempo da pandemia. Toda semana observava o desenrolar do episódio “Mainha, a chuva e as roupas no varal”. Era até engraçado. Fazia sol, ela colocava as roupas no varal. Chovia, ela corria para tirar as roupas do varal. Às vezes isso acontecia umas três vezes no dia. Roupas para lá e para cá, conforme a vontade do tempo da Bahia. E eu ria demais da insistência de minha Mãe ao colocar as roupas para fora quando o sol aparecia escondido por trás das nuvens. Mas era fato: as roupas estavam sempre limpas e secas.
Muito recente, já no meu quintal, lembrei do episódio das roupas no varal quando eu fui vítima da vontade do tempo da Bahia. Muito alegremente estendi as roupas pois o sol estava radiante depois de um dia de chuva. Mas isso durou muito pouco. Lá veio a chuva. Corre para tirar como Mainha fazia ou deixa molhar? Pensei rapidamente: Ah, deixa molhar, vai ser rapidinho, não tá com cara de que vai chover muito. Deixei. E aí molhou demais! As roupas ficaram estendidas no varal o dia inteiro tomando chuva. Eu dei risada ao lembrar de Mainha e ri também de mim que não corri para tirar as roupas do varal. E teria que lavar tudo de novo.
É o cotidiano… Ele está sempre aí. Quase sempre é mais do mesmo. E é no mais do mesmo que a memória se cria e os aprendizados se concretizam ou não.
Adoro seu jeito leve de escrever.
Obrigada, Tania! <3
Amo esse texto.
fico feliz em saber, Mayara!
Devemos aproveitar esses pequenos momentos e alegrias e guardamos em nossa memória. Realmente o cotidiano é enriquecedor por mais que não possa parecer.
Boa semana!
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Até mais, Emerson Garcia
boa semana, Emerson!