História do novo sobrenome é o segundo livro da tetralogia Napolitana, da escritora italiana Elena Ferrante. No Brasil, os livros são lançados pela editora Globo livros, sendo o primeiro A amiga Genial, o terceiro História de quem foge e de quem fica e o último, Storia della bambina perduta (ainda sem título em português).
Em História do novo sobrenome nossas amigas/rivais Elena Greco e Raffaela Cerullo, a Lila, vão passar da infância para a fase jovem-adulta mas cada uma de maneira diferente. Elena vai conseguir realizar o desejo de sair de Nápoles e continuar os estudos, enquanto Lila vai viver a vida de uma mulher casada.
São duas direções diferentes e que vai nos fazer pensar sobre as oportunidades da vida. Lila precisou casar por causa da família e Elena, mesmo com toda dificuldade, sempre teve pessoas que acreditavam em seu potencial e a estimulava a não largar os estudos, e uma das principais estimuladoras era sua amiga Lila.
Sim, é Lila que torna a escrita difícil. Minha vida me leva a imaginar como teria sido a dela se por acaso lhe houvesse cabido aquilo que me coube, que uso ela teria feito de minha sorte.
Enquanto acompanhamos algumas histórias de Lenu descobrindo novos mundos e pessoas, se desabrochando pra vida, somos atraídos muito mais para Nápoles e os dias de Lila. Afinal, ela continuou no mesmo lugar, vivendo numa sociedade extremamente machista, viu seus sonhos serem interrompidos e precisou assumir o papel de mulher/dona de casa/ esposa/ mãe quando era apenas uma menina.
Mas Lenu no seu novo mundo também sofria algumas dificuldades. Ela precisava encontrar o seu papel naquele novo lugar e carregava o peso de ter que ser alguém diferente e melhor do que todos do seu bairro. Ou seja, ela não poderia falhar.
Mas o que mais me feriu foi notar por trás do seu orgulho de mãe o temor de que, de um momento para outro, tudo mudasse e eu de novo perdesse pontos, não lhe dando mais a ocasião de se vangloriar. Confiava pouco na estabilidade do mundo. Por isso me alimentou à força, enxugou meu suor, me obrigou a checar a febre não sei quantas vezes. Tinha medo de que eu morresse e a privasse de minha existência-troféu.
Elena Ferrante aborda ainda de forma mais enfática o papel da mulher na sociedade. E nesse segundo livro, a violência doméstica é um tema gritante que vai te incomodar durante a leitura, assim como a traição no contexto conjugal e na amizade. A literatura de Ferrante tem uma magia que minhas palavras não conseguem explicar. Os temas são urgentes, as palavras e as cenas são duras, mas a gente se apega ao livro como se estivesse lendo uma leitura leve e tranquila. Acredito que a proximidade com o real é que faz essa magia acontecer. Afinal, no dia a dia, a gente leva uns sustos mas continua vivendo.
Cada coisa do mundo estava em suspenso, puro risco, e quem não aceitava arriscar murchava num canto, sem intimidade com a vida.
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