Um estudo em vermelho – Sir Arthur Conan Doyle

O meu amor por Sherlock Holmes nasceu por causa do Sherlock do Robert Downey Jr (e isso porque eu amo o Robert). Mas, certo dia, um amigo me indicou a série “Sherlock” e eu me apaixonei pelo Holmes do Benedict Cumberbatch. De início, confesso, o amor foi todo por conta do Benedict, mas eu sabia que esses dois Sherlocks foram inspirados no detetive criado pelo médico Sir Arthur Conan Doyle. Toda a genialidade do detetive tinha nascido da mente de Doyle e eu queria saber se ia me apaixonar por ele também.

Em 22 de maio de 1859 nascia Sir Arthur Conan Doyle na Escócia. Formou-se em medicina em 1885 e praticou o ofício até 1891. Também em 1885 começou sua carreira de escritor e dois anos depois, em 1887, publicou na revista Beeton’s Christmas Annual o “Um estudo em vermelho”, o primeiro romance com o detetive Sherlock Holmes e seu parceiro, Dr. Watson.

Em “Um estudo em vermelho”, Watson retorna à Inglaterra depois de ter sido ferido enquanto servia como médico assistente no 5º Regimento de Fuzileiros de Northumberland na Índia. Com pouco dinheiro, sozinho e em busca de um lugar para morar, encontrou um antigo colega, Stamford, que conhecia alguém na mesma situação que Watson, um sujeito que trabalhava no laboratório químico do hospital, um pouco extravagante, não sabia ao certo sua especialidade, mas de acordo com o rapaz, era um sujeito bastante decente.

Watson se interessou, realmente precisava de um lugar bacana para morar, mas não tinha dinheiro suficiente, Stamford ficou meio apreensivo em apresentar Watson para Holmes, mas devido a insistência do Doutor acabou marcando o encontro.

Não é fácil exprimir o inexprimível”, respondeu ele, rindo. “Holmes é um pouco científico demais para o meu gosto… chega quase a ser desalmado. Eu poderia imaginá-lo dando a um amigo uma pitadinha do mais recente alcaloide vegetal, não por maldade, veja bem, mas simplesmente movido por espírito vingativo, para ter uma ideia precisa dos efeitos. Para lhe fazer justiça, acho que ele mesmo o tomaria com igual prontidão. Parece ter paixão por conhecimento certo e exato. – pag 16

Logo no primeiro contato, Watson fica impressionado e um pouco assustado com Holmes, já que o mesmo o cumprimenta questionando sobre o Afeganistão. Ninguém havia comentado sobre isso e nem o Doutor e Stamford tinham ideia de como Holmes havia descoberto, Watson ficou instigado com o possível colega de apartamento e seus mistérios.

“Ah! Então é um mistério?” exclamei, esfregando as mãos. “Isto é muito estimulante. Sou-lhe muito grato por nos aproximar. ‘O estudo próprio para a humanidade é o homem’, você sabe. – pag 22

um estudo em vermelho - foto jeniffer santos

O livro é divido em duas partes. Na parte I, “Nova tiragem das reminiscências do Dr. John H. Watson, ex-membro do departamento médico do exército”, vamos conhecer, junto com Watson, a genialidade do homem que adorava tocar violino, tinha conhecimentos: profundo em química, preciso mas assistemático em anatomia, imenso em literatura sensacionalista, era fraco em política e que não adquiria conhecimento que não tivesse uma finalidade.

“Entenda”, explicou ele, “considero que o cérebro de um homem é originalmente como um pequeno sótão vazio, que temos de encher com os móveis que escolhemos. Um tolo recolhe todo tipo de trastes com que depara, de modo que o conhecimento que lhe poderia ser útil fica atravancado, ou na melhor das hipóteses misturado com muitas outras coisas, de modo que ele tem dificuldade em localizá-lo. O trabalhador competente, porém, é muito cuidadoso com relação ao que leva para seu cérebro-sótão. Não guardará nada lá a não ser as ferramentas que possam ajudá-lo em seu trabalho, mas dessas tem grande sortimento, e todas na mais perfeita ordem. É um erro pensar que o quartinho tem paredes elásticas e pode se expandir até qualquer medida. Acredite que chega uma hora em que, para cada novo conhecimento, você esquece alguma coisa que sabia antes. É da maior importância, portanto, não ter fatos inúteis expulsando os úteis. – pag. 26

Logo, Watson descobre que Holmes não era médico, químico ou qualquer coisa do tipo, era um detetive consultor que ajudava a polícia de Londres a desvendar casos que eles não conseguiam. E diante dessa descoberta se depara com a ciência estudada e aplicada por Holmes, a dedução.

Após descobrir a verdadeira profissão de Holmes, Watson acaba entrando no mundo da investigação ao lado do novo amigo. Tudo isso porque os agentes Lestrade e Gregson tinham um caso para Holmes. Um homem havia sido assassinado dentro de uma casa abandonada, não apresentava nenhum ferimento, porém havia sangue no local do crime. A investigação inicia e ainda na primeira parte, Conan Doyle nos entrega todo o mistério.

O crime é desvendado por Holmes sob o olhar atento e admirado de Watson. Mas era preciso saber o motivo do crime, então Conan nos leva para a segunda parte “A terra dos santos”, narrada em terceira pessoa. A narrativa de Conan é sensacional, há uma história dentro da história e, por algumas vezes, no início da leitura da segunda parte, me questionei: o que isso tem a ver com Holmes e Watson? E tinha tudo a ver.

Voltando para as reminiscências, Watson, maravilhado com tudo que tinha presenciado e como tudo havia sido solucionado, acreditava que mais pessoas deveriam conhecer os méritos do detetive e tenta incentivá-lo a publicar algo sobre o caso. Holmes não dá muita importância, mas ao mesmo tempo deixa o caminho livre para Watson.

“É maravilho!”, exclamei. “Seus méritos deveriam ser publicamente reconhecidos. Deveria publicar um relato do caso. Se não o fizer, eu o farei para você.”

“Pode fazer o que quiser, doutor”, respondeu ele. – pag 188

E assim começamos a acompanhar as histórias de Sherlock narradas por Dr. Watson. A meu ver, Watson precisava ser esse personagem “normal” e totalmente secundário para tentar desvendar o mistério inexprimível que era o próprio Sherlock. Porque, sem dúvidas, não há maior mistério que Holmes. Conan Doyle criou um personagem sem igual, não é à toa que se tornou o maior e mais conhecido detetive da literatura.

“O que fazemos neste mundo não importa”, retrucou meu companheiro amargamente. “A questão é o que levamos as pessoas a acreditar que fizemos. – pag 182

 

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