Nós estamos acostumados a acompanhar o desenrolar de relacionamentos, aquela comédia romântica ou um romance “água com açúcar”. É bonito ver dois personagens se conhecerem e construírem juntos uma história de amor. Mas na vida as relações têm começo, meio e fim. E a vida imita a arte, a arte imita vida.
O chileno Alejandro Zambra em seu livro Bonsai (Cosac Naify), nos apresenta a história do fim do amor entre Julio e Emilia, dois estudantes de Letras. Logo no início Zambra deixa claro que ela morre e ele fica sozinho.
No final ela morre e ele fica sozinho, ainda que na verdade ele já tivesse ficado sozinho muitos anos antes da morte dela, de Emilia. Digamos que ela se chama ou se chamava Emilia e que ele se chama, se chamava e continua se chamando Julio. Julio e Emilia. No final, Emilia morre e Julio não morre. O resto é literatura. – pag 10
É estranho? Talvez. Mas, me diga, não é real? E eu amo histórias assim.
Como disse, relações acabam. Seja amizade, seja relacionamentos. Elas acabam porque chegou o momento de acabar ou acabam porque é hora de alguém ir embora. Cada um segue o seu caminho e o tempo vai tratando de colocar tudo no lugar.
Em Bonsai conhecemos a vida de Julio depois de Emilia e a vida de Emilia depois de Julio. Eu acredito que cada pessoa que passa por nossa vida deixa um pouco de si conosco, na história de Zambra nós vamos descobrir o que ficou de Julio em Emilia e o que de Emilia ficou em Julio.
Zambra ainda faz uso da metaliteratura utilizando a literatura, também, como uma personagem importante da narrativa. O romance de Julio e Emilia é norteado por vários livros, inclusive a aproximação inicial dos dois personagens acontece devido a leitura do Em busca do tempo perdido de Marcel Proust, ou melhor, da não leitura porque, na verdade, nenhum dos dois leu a obra.
As extravagâncias de Julio e Emilia não eram apenas sexuais (que existiam), nem emocionais (que eram muitas), mas também, digamos, literárias. Numa noite especialmente feliz, Julio leu, meio que de brincadeira, um poema de Rubén Darío que Emilia dramatizou e banalizou até transformá-lo num verdadeiro poema sexual, um poema de sexo explícito, com gritos, com orgasmos. Então virou um hábito o lance de ler em voz alta – em voz baixa – toda noite, antes de trepar. – pag 28
Um outro título bastante presente na história do casal é Tantalia, um conto de Macedonio Fernández, em que um casal cultiva um Bonsai como símbolo do relacionamento dos dois mas depois eles descobrem que se a planta morrer também morrerá o amor que os une. Outros livros citados: Antologia da literatura fantástica, Madame Bovary, O pavilhão dourado.
Além da presença dessas obras, o próprio Julio acaba fazendo parte da produção de um romance do escritor Gazmuri sobre um rapaz que descobre que uma namorada de sua juventude morreu. E assim, tudo se mistura a história de Zambra, o romance de Gazmuri e a vida de Julio.
O livro de Zambra é como um Bonsai mesmo. Pequeno, mas bonito na medida certa.
>> Quando li Bonsai estava viciada na música “Skinny love” na voz do Bon Iver. Então, vou aproveitar e deixa-la como dica de música para acompanhar a leitura.
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