Um homem vai ser morto a facadas por ter desvirginado uma moça, antes do casamento. Os autores do crime são os gêmeos, irmãos da donzela.
A morte foi anunciada para toda cidade e também para o leitor do livro Crônica de uma morte anunciada, de Gabriel Gárcia Márquez.
Trata-se do assassinato de Santiago Nasar pelos irmãos de Ângela Vicário, Pablo e Pedro Vicário.
E assim como dizem os mais antigos: para morrer basta estar vivo. O dia da morte de Santiago seria mais um dia comum na sua vida, se não fosse pela chegada do Bispo à cidade.
No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às 5h30m da manhã para esperar o navio em que chegava o bispo. – pag. 7
Crônica de uma morte anunciada é uma das obras-primas de Gabo e foi publicado em 1981. O narrador é um antigo morador da cidade, que volta lá após anos, para tentar entender e investigar o crime. Assim o livro tem uma narrativa pessoal mais uma investigação jornalística que resulta numa crônica. E mesmo sabendo do final trágico de Santiago, nós ficamos intrigados, curiosos e somos levados a querer realizar a leitura de uma só vez.
O início desse livro entrou pra minha lista de “inícios de livros favoritos”, e segue logo atrás do início do livro Bonsai, do chileno Alejandro Zambra que diz assim: “No final ela morre e ele fica sozinho”. É uma história de amor que fala sobre a consciência do fim. De que tudo na vida tem um fim.
Esses dois livros fogem daquela sequência de início, meio e fim do “era uma vez” e antecipa o fim. Inverte a lógica e nos faz se importar não com o QUANDO, mas com o COMO e o POR QUÊ. Vamos nos importar com a jornada e não com o final dela.
Mas voltando pro livro Crônica de uma Morte Anunciada, nós já sabemos que o Santiago vai morrer, e como ele vai morrer, o grande mistério é o POR QUÊ. De início sabemos que ele foi apontado com o cabra que desgraçou a vida de uma donzela, mas em nenhum momento temos certeza de que Santiago realmente tenha realizado tão feito. E vamos percebendo isso quando quase toda a cidade começa a relembrar os acontecimentos daquele dia.
E por falar em acontecimentos, esse assassinato aconteceu de verdade. O crime brutal de um homem que foi morto a facadas por tirar a virgindade de uma moça ocorreu em 1951, no povoado de Sucre – Colômbia (cidade onde Gabriel morou).
O que nos deixa mais chocados ainda. E percebemos que longe do mistério, o que o Gabo queria com essa crônica era mostrar o quanto o machismo era forte, o quanto a mulher era desvalorizada e que a violência era vista como algo normal para resolver qualquer problema, inclusive questões de honra. Além de mostrar a sociedade hipócrita da época. Todo mundo sabia que Santiago ia morrer mas por que diabos ninguém teve a decência de avisar ao rapaz?
A fatalidade nos faz invisíveis…
Essa história ficou na minha cabeça pelo motivo e brutalidade do crime. Além do grande questionamento: afinal, Santiago tirou a virgindade de Ângela? Esse mistério literário vai entrar pra lista de mistérios literários junto com o de Capitu e Betinho.
E literatura boa é aquela que passa mas fica. Deu pra entender?
Salve, Gabo!
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Adorei esse livro. Na verdade, nem me importei se Santiago havia ou não tirado a virgindade de Ângela. O fato de todos saberem que ele estava jurado de morte e ninguém fazer nada foi o que mais me deixou incomodada. Poderia ser apenas mais uma história de assassinato e vingança, mas o estilo fantástico deu uma leveza ao tema e destacou o livro de outras tramas similares.
beijo!
Eu fiquei impressionada com os dois fatos: matarem um homem sem saber se aquilo era real e todo mundo saber e não fazer nada.
Adorei esse primeiro contato com Gabo. Agora estou mais animada para ler outros livros dele.
bjão
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