Hoje gostaria de falar com vocês sobre Parafusos, HQ autobiográfica da norte-americana Ellen Forney, lançada em 2014 no Brasil pela editora Martins Fontes. Estava na lista de desejados há algum tempo e assim que chegou por aqui foi devidamente devorado. A leitura me proporcionou uma experiência muito legal. Quadrinho inteligente, informativo, artístico e extremamente real. Obviamente um baita trabalho.
A capa é bonitinha e até infantil, mas o subtítulo já nos mostra o que teremos pela frente, um relato sobre mania, depressão, arte e a luta pessoal de Ellen Forney para se manter “estável”. Parafusos é basicamente um diário que se inicia quando Ellen é diagnosticada com transtorno bipolar. Esperava uma leitura ao estilo de A redoma de vidro, de Sylvia Plath, mas o quadrinho não é deprimente e pelo contrário, se encaminha para o humor, percorrendo assim, um caminho completamente diferente.
As memórias relatadas se iniciam por volta de 1998, às vésperas de Ellen completar trinta anos de idade, e se prolongam durante seu tratamento. Ao longo de sua história vemos sua luta contra a doença, sua dificuldade quanto aos medicamentos e seus devaneios acerca de sua produção artística.
É muito fácil rotular alguém e para que eu não cometa esse erro vou listar alguns aspectos da vida de Ellen para que você mesmo tenha uma ideia de quem ela é ou era no momento em que recebeu o diagnóstico da doença. Trinta anos, decidiu fazer uma única tatuagem na vida e resolveu que seria nas costas inteira, artista, filha de pais divorciados, mãe lésbica, se descobriu bissexual, cheia de amigos, adora festas, fuma maconha, triatleta, moderna e extremamente ativa.
Quando Ellen recebe o diagnóstico de sua terapeuta Karen ela vive uma fase de euforia. Faz mil coisas ao mesmo tempo, tem muitos projetos, muitas festas para ir, acha tudo lindo e parece viver num mundo colorido. Por isso, se nega a acreditar, de início, no diagnóstico. Nada a perturba, mas decide mesmo assim, estudar um pouco o assunto. Sua primeira preocupação é sua arte, portanto, busca uma lista de artistas que provavelmente sofreram com distúrbios maníaco-depressivos ou distúrbios de depressão grave e o que ela acaba percebendo é que vários cometeram suicídio ou ao menos tentaram.
A administração dos medicamentos é algo que podemos acompanhar ao longo dos anos, já que muitas tentativas foram feitas e as reações foram as mais diversas. Em meio ao tratamento, a euforia e a “felicidade” acabam e Ellen se vê muito deprimida. Os medicamentos, especialmente o Lítio, causa uma série de efeitos colaterais, contribuindo assim, para seu temor frente a doença. Ganho de peso, espinhas, insônia, sonolência e a queda na produtividade no trabalho a acompanham durante o tratamento. Isso tudo somado ao medo de perder sua criatividade.
Temos cenas em que a vemos enrolada no cobertor, contrastando assim, com a Ellen do início. Chora muito e sente muito medo. Seu grande alicerce é a família, que a seu modo a apoiam nestes duros momentos, seja financeiramente ou psicologicamente. Para que tenhamos uma ideia de quanto o transtorno bipolar a afeta, ela narra sua participação na San Diego Comic-Con. Quando percebeu que o livro tinha se esgotado no evento, ao invés de comemorar entrou em parafuso, pois não teria mais material para assinar. Num surto, saiu às ruas e acabou comprando seus livros pelas lojas para disponibiliza-lo no evento. Episódios assim, podem parecer simplórios, mas afetam sobremaneira a rotina do doente.
Temos para ilustrar isso tudo, uma arte simples em preto e branco, mas com desenhos e esquemas, se me permitem o trocadilho infame, bem malucos. Ellen anexa desenhos que fez durante as crises depressivas aos quadrinhos, tornando a obra ainda mais impactante. A história tinha todos os ingredientes para nos deprimir, mas é em sua maioria, bem divertida. Nem preciso dizer que recomendo né?
Até a próxima!
Americanas / Submarino / Livraria Cultura / Saraiva
Alan, nunca pensei que essa HQ fosse tão bacana, olhava a capa e nem tinha muita vontade…. Lerei, valeu pela dica !!!
Cara, achei Parafusos muito legal. É um quadrinho diferente e o caráter autobiográfico enriqueceu a obra. Ellen Forney teve muita coragem para se abrir desta maneira. Vale a pena investir. Abraço.
Olá!
Não costumo ler quadrinhos, mas achei lindos os desenhos desse livro.Sem contar que a história parece muito boa pelos temas que aborda. São fortes.
Acatei a dica.
Bjuxx
Abração.
– Diego, Blog Vida & Letras
http://blogvidaeletras.blogspot.com
Fala Diego, blz?
O tema realmente é bem forte e os momentos divertidos do livro se devem à personalidade de Ellen. Achei interessante a abordagem proposta, na qual ela vai listando seus principais problemas em relação à doença e a dificuldade para regula-los. Vale muito a pena.
Abraço.