Já que falei sobre cadernos e canetas, acredito que seja interessante falar sobre anotações de estudo, até mesmo para atender a alguns pedidos.
Antes eu vou compartilhar uma parte da minha trajetória de estudante.
A minha graduação em comunicação foi bastante prática. Lembro que tive aquelas matérias iniciais teóricas, mas o curso foi muito prático e eu amei isso. Por outro lado, quando decidi voltar para vida acadêmica tive dificuldade em criar uma rotina de estudos com leituras, fichamentos, resenhas. Eu tinha mesmo perdido o jeito.
Ler por entretenimento e manter uma criação mais livre, como em blogs e redes sociais, são atividades bem diferentes que a leitura e a escrita para academia. Hoje eu entendo que as minhas experiências com o jornalismo e a internet me ajudaram bastante a criar um texto mais objetivo e acessível, algo um pouco incomum na pós-graduação. Mas eu também preciso encarar algumas leituras tensas e com linguagem muito acadêmica. E no início foi complicado. Então costumo dizer que foi preciso reaprender a estudar.
Sorte que eu estava bem empenhada em voltar para vida acadêmica. Logo me empolguei com a rotina de estudante e fui em busca desse reaprender a estudar. Dois livros me ajudaram bastante: Como se faz uma tese, do Umberto Eco, e A arte de pesquisar, da Mirian Goldenberg. Os dois possuem uma linguagem acessível e servem como um guia para quem deseja iniciar no mundo da pesquisa. O da Mirian me acompanhou por alguns anos e até entrou nas referências da dissertação.
Algo que ouvi muito de todas as professoras e professores do mestrado foi para ler e sempre fichar ou resenhar os textos. A leitura ativa é essencial para aprendizagem, ainda mais de livros/textos complexos. E fazer leitura ativa é justamente estabelecer um diálogo com texto – fazer perguntas, se envolver com a leitura, anotar nas margens, sublinhar, rabiscar, fazer conexões com outras leituras e autores (e anotar no próprio livro ou post-it). Por isso é até importante desapegar um pouco do livro como objeto intocável e colocá-lo como um objeto a ser desbravado.
Um dos capítulos de A arte de pesquisar é sobre fazer fichamentos, o Fichamento da Teoria. Goldenberg diz que faz uma primeira leitura seguindo mais ou menos algo parecido com o que descrevi acima e em seguida realiza uma releitura buscando seguir um roteiro de leitura e responder algumas questões.
Roteiro de fichamento/ leitura de Mirian Goldenberg em A arte de pesquisar
1. Qual o objetivo da autora?
2. Com que outros autores está dialogando ou discutindo (explícita ou implicitamente)?
3. Quais as categorias (conceitos mais importantes) utilizadas? (como são definidas?)
4. Quais as suas hipóteses de trabalho?
5. Qual a metodologia utilizada em sua pesquisa?
6. Qual a importância de seu estudo no campo em que está inserido? (o que a autora diz? o que eu acho?)
7. A autora sugere novos estudos?
8. Resumo do livro.
9. Minha avaliação crítica do livro.
Durante um tempo esse era o roteiro que tentava seguir para as minhas leituras acadêmicas. Hoje já tenho contato com outras boas referências e peguei um pouco de cada para fazer do meu jeito.
- Gosto muito de sumarizar os parágrafos importantes de um texto, o que quer dizer tentar extrair o assunto principal, durante a leitura;
- Costumo escrever minhas impressões gerais sobre o que estou lendo – o que estou entendendo, o que estou achando, o que estou encontrando – e minha cabeça adora fazer conexões com outros textos lidos. E isso é ótimo porque enriquece o aprendizado e a escrita;
- Faço fichamentos de citações – copiar e colar o que a autora ou autor do texto disse e referenciar com o número da página. Essa parte é essencial para a escrita de textos acadêmicos (faço quando sei que pode servir de referência para mim);
- Faço também resumos – escrever com as minhas palavras o que encontrei no texto.
O mínimo que eu faço é manter a leitura ativa com sumarização e uso de post-it para escrever no próprio livro. O máximo segue os passos elencados acima e até posso retornar para o roteiro da Mirian. A escolha depende do objetivo da leitura e complexidade do livro/texto.
Livros na Amazon:
Como você costuma fazer suas anotações de estudo?
E também me diz o que mais você gostaria de ver por aqui sobre rotina de estudos! 😉
Nossa! Muito útil esse roteiro de fichamento, acho que posso usar em qualquer tipo de leitura, né? adaptando um pouco… achei muito bom mesmo. Obrigada por isso!!!
Pode sim! É só adaptar! Que bom q foi útil!
bjs
Texto muito rico e exercício útil. Estou voltando para a graduação e voltando a pensar em um mestrado. Vou começar a me preparar e seu post já está salvo nas minhas referências no Notion para consultar de forma mais rápida. Obrigada por esse post. Sério!!!
Sucesso, Alê!
Fico feliz em contribuir de alguma maneira. <3
bjs
Minhas anotações de estudo sempre foram meio caóticas, mas eu conseguia me entender com elas – só eu e mais ninguém, hahaha. O fichamento é muito bom, sobretudo das citações. Isso me ajudou barbaridade em monografias e demais trabalhos acadêmicos.
aquele jeitinho nosso hahaha
Muito lindo a arte do site e o texto então! Adorei as dicas, vou começar a anotar mais, eu só costumo ler e marcar com tags de post-it. Fez super sentido para mim o que você falou sobre a importância de fazer resumos e outras marcações.
Obrigada, Kelly! Anotar ajuda a apreender mais os assuntos. bjs
amei tanto o post! veio no momento certo por aqui <3 gosto bastante de ler "conversando" com artigo, o livro… com tudo. esse foi um costume sendo construído de uns tempos para cá e sinto que me conecta bem mais com o que está escrito.
Bom saber que chegou no momento certo para você, Laryssa!
Faz 4 anos que estou na graduação e ainda tenho MUITA dificuldade pra estudar. Acho que fiquei tanto tempo naquele ciclo de ter matéria e depois fazer exercícios do vestibular que desde a entrada na faculdade, não entendi qual meu jeito de absorver as coisas. Adorei essa dica dos livros, vou lê-los <3
Limonada
acredito que os livros vão te ajudar!
bjs
Queria muito ter lido esse post quando estava no mestrado! Como você disse, ler/escrever por diversão não é a mesma coisa que ler para a produção acadêmica. Sei que isso parece muito óbvio, mas não era para mim na época! Tive muita dificuldade para entender que quem escreve bem uma redação não necessariamente escreve bem um artigo científico. Para mim, escrever bem na terceira pessoa era escrever bem e ponto. Um dos maiores erros que cometi foi não fazer o fichamento rigoroso de tudo o que eu lia.
Um bom fichamento salva mesmo!
Obrigada por compartilhar um pouco da sua experiência.
bjs
Oi Jeniffer, apesar de não fazer um estudo formal, estou na vibe de aprofundar mais as minhas leituras e tenho feito fichamento de algumas leituras que quero entender mais. Atualmente utilizo o caderno de tudo e o notion. Adorei saber mais da sua vida acadêmica. Gostaria de ver um exemplo de algum livro que você faz esse fichamento.
Abraço
bons estudos, Fran!
bjs
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