Movida pelo desejo de ler algo diferente do habitual e pela temática literatura baiana, da edição Livro Livre do Clube do Livro Alagoinhas, li A vida e as mortes de Severino Olho de Dendê, uma ópera espacial, subgênero da ficção científica.
A vida e as mortes de Severino Olho de Dendê é de autoria do baiano Ian Fraser e foi publicado, em 2022, através da Editora Intrínseca. Tomei conhecimento da publicação por causa do Luke, do blog Um café com Luke, que é super atento a ficção brasileira contemporânea e em ficção científica, terror, em gêneros bem diferentes do que costumo ler.
Preciso confessar que saí totalmente da minha zona de conforto cultural com essa leitura. Não costumo assistir ou ler produções que se encaixem na categoria ópera espacial. Mas um dos objetivos de participar de um Clube de Livro/ Leitura é ler algo fora do habitual, então embarquei nessa jornada interplanetária de coração aberto e fui surpreendida positivamente.
O livro A vida e as mortes de Severino Olho de Dendê nos apresenta uma dupla de investigadores, moradores do planeta Cabula XI, no ano de 2577, Severino Olho de Dendê, o humano (ou o que restou de um), e Bonfim, um puiuiú (espécie nativa do planeta Zolriatis) coberto por fitinhas do Senhor do Bonfim. Severino tem um olho com o poder de ver os últimos minutos, os últimos suspiros, de alguém antes da morte. Já Bonfim possui a habilidade emocatalisadora em que consegue acessar e compartilhar emoções.
A aventura começa quando os dois passam a investigar um assassinato que tem o afilhado de Dinha, a líder das Paladinas do Sertão, como acusado do crime. Mas o barril fica mais dobrado e eles acabam investigando uma organização poderosa, a ProPague.
Durante essa jornada investigativa, a dupla se junta a três figuras femininas: Antonieta, a Carcará fã de livros e literatura; Filomena, uma das filhas de Dinha e integrante das Paladinas do Sertão; e Juá, uma carranca robotizada protetora de Filomena.
Vou optar em não compartilhar aqui alguns detalhes da narrativa porque o bom dessa leitura foi ser surpreendida por personagens irreverentes inspirados na cultura nordestina e na ficção científica. Além claro de imaginar os lugares que fazem referências às cidades e bairros baianos.
Eu dei boas risadas com A vida e as mortes de Severino Olho de Dendê e fiquei animada com a criação do Ian que elaborou um universo totalmente possível de visualizar mesmo para alguém que não é tão familiarizado com o gênero. Finalizei a leitura com o desejo de explorar mais esse universo e acompanhar mais as aventuras de Severino, Bonfim, Filomena, Antonieta e Juá. Também fiquei pensando: pô, isso aqui ficaria bom na tela, hein… Alô, Lázaro Ramos!
“Eu venci uma guerra, querido. Eu conheci a galáxia e espalhei as Paladinas do Sertão por todos os sistemas que o homem conhece. Perdi irmãs, perdi a chance de uma vida quieta, perdi a paz, perdi meus maridos… Nesse tempo todo, descobri que viver é uma coleção de perdições. O segredo é este: a última coisa que você perde na vida é também a primeira coisa que ganha. E quando só te resta perder isso, você começa a pensar muito nas coisas que ficaram no caminho. Os rastros que você deixou o vento leva, os monumentos eventualmente tombam, as palavras, algumas ficam, mas o que é garantido de propagar, meu querido, são as conexões. Bilhões e trilhões de fios que vão se tocando e se multiplicando, mirando o infinito. É a coisa mais comum e também a mais preciosa desta vida.” (p. 117) |
Curiosidades sobre o livro A vida e as mortes de Severino Olho de Dendê:
– O projeto gráfico do Anderson Junqueira ficou lindão;
– O espetáculo de capa é do Breno Loeser;
– Cada capítulo inicia com um cordel – particularmente gosto dessa mistura entre gêneros e do espaço dado a uma literatura que quase sempre fica à margem;
– Há muitas referências a artistas brasileiros como Gilberto Gil, Belchior, Tim Maia, sempre nas mais tocadas da Rádio Serendipidade (no ar desde 2145).