Suicidas é o primeiro romance do escritor carioca Raphael Montes. O livro foi finalista de muitos prêmios literários, em 2012 foi publicado pela Benvirá, selo da Editora Saraiva, e agora em 2017 ganhou uma reedição pela Companhia das Letras.
Foi estranho ler esse livro durante o Setembro Amarelo, campanha de prevenção ao suicídio. E quando fui publicar uma foto no Instagram e utilizei a hashtag #suicidas recebi um alerta da plataforma sobre a questão que me fez remover a palavra-chave do meu post.
Na época que o Raphael lançou o livro não existia a campanha (ela só teve início no Brasil em 2014). Então esse livro, como muitos do gênero policial, não é para qualquer leitor. Ele não é um alerta sobre as causas do suicídio. É um livro policial que tem como base para trama a roleta-russa, que de acordo com o dicionário é uma “operação que consiste em deixar uma só bala no tambor de um revólver, fazê-lo girar, apontar o cano da arma para si próprio ou para outrem, sem conhecer a posição exata da bala, e apertar o gatilho, isso por bravata e/ou desejo de experimentar emoções violentas”.
Dito isso, posso falar sobre o livro. No porão de uma casa, nove jovens da elite carioca participam de uma roleta-russa. Todos morrem. E um ano depois da tragédia, a delegada Diana Guimarães reúne as mães dos jovens para tentar entender o que realmente aconteceu naquele dia e os possíveis motivos do suicídio coletivo.
A delegada, as mães e os leitores só vão poder ter a chance de saber um pouco do que aconteceu naquele dia por conta do diário do Alessandro Parentoni, jovem aspirante a escritor, que além de manter esse diário sobre sua vida também estava escrevendo um livro no momento em que acontecia a roleta-russa. Sim. Enquanto todo mundo estava entre a sorte e a morte, o Alê registrava cada ação e diálogo no que seria seu futuro livro de grande sucesso. Isso me incomodou bastante na narrativa. Fiquei imaginando o controle que esse rapaz deveria ter para escrever enquanto via seus amigos morrerem.
Nem mesmo eu sei se estou certo. Não sei se vale a pena estar aqui, vivendo esta loucura, narrando cada instante, obcecado, vendo seres humanos definharem diante da morte, rendendo-se ao instinto. Tudo isso para quê? Para ser lido num país onde metade da população é analfabeta. Para realizar um sonho que desde cedo me disseram ser utópico, irreal, coisa de louco. Pois eu sou louco.
Cada um, dentro de si, tem um motivo para estar aqui. Eu não posso querer que eles me entendam… Também não me interessa sabê-los. Ninguém perguntou os meus… E eu ficaria puto por ter que explicá-los a quem quer que fosse. Estou aqui porque estou. Por algo interno que me motiva. Foda-se o resto. Não precisa fazer sentido.
Os noves jovens são personagens bastante clichês. Como exemplos temos o Zak, amigo de infância do Alê, como o playboy malhado e riquinho e o Alê como o nerd que não tem sorte com as mulheres. Mas confesso que esqueci dos clichês porque a narrativa é bem envolvente e ágil. A leitura fluiu que nem percebi. Fiquei intrigada para saber os motivos que levaram aqueles jovens a estarem ali participando de um jogo de morte. Quis, assim como a delegada Diana e as mães, ler o próximo capítulo escrito pelo Alessandro. Fui sofrendo aos poucos. Fiquei chocada em alguns momentos. E comecei a achar tudo uma loucura.
O final surpreende pela ousadia do autor e reforça a ideia de que quando alguém nos conta uma história é sempre apenas uma versão dela.
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