Vou pedir licença para contar a minha história…

Talvez você não conheça a frase acima, mas ela é o primeiro verso da Saga de um Vaqueiro, música que fez sucesso com a banda Mastruz com Leite em muita festa de forró e vaquejada no nordeste.

A música e a banda marcaram minha infância e adolescência. E eu tenho a mania de falar “saga” para tudo que eu vivo e que tem muitas idas e voltas, alguns obstáculos, essas coisas da vida, que como diz a canção, tem suas perdas e suas glórias. Uso sempre para as pequenas aventuras diárias da minha vida.

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A história da música é sobre um vaqueiro, mas quero pedir licença para contar a minha história de mestranda. Para chegar ao presente, preciso compartilhar antes um pouco do passado, falar das idas e voltas, das escolhas, das incertezas, de autoconhecimento, e de tempo ao tempo.

Me formei em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, em 2010. Na época já havia a ideia de fazer mestrado e seguir com a carreira acadêmica, mas a instituição que estudei não preparava o aluno para esse objetivo. O aluno era preparado para o mercado de trabalho. Era muito mais prática do que teoria. E não acho isso ruim. Foi de fundamental importância conhecer a parte prática da comunicação, que não se resumia apenas ao jornal impresso, rádio, e a televisão.

A sementinha da pesquisa foi plantada por alguns poucos professores durante a graduação. Eram professores que na época estavam cursando mestrado ou doutorado. E de vez em quando compartilhavam um pouco desse mundo em sala de aula. Lembro até que um deles formou um grupo de iniciação científica, que eu participei por uns meses.

Já saí da faculdade com um emprego e certa da minha área de atuação, comunicação digital. Trabalhei por cerca de 10 anos na área. Passei por agências digitais e setores de comunicação e marketing de empresas públicas e privadas. Fui seduzida pelo mercado de comunicação. E acabei deixando de lado alguns desejos antigos, como a carreira acadêmica.

Era uma sedução que consumia, uma espécie de relacionamento abusivo. Afinal não tinha tempo para mais nada. Você fica envolvida com o trabalho e se deixar não tira outros projetos da gaveta. E é aí que mora o perigo.

Em 2013, eu resolvi arriscar. Conheci um programa de pós-graduação em educação e tecnologia. Me inscrevi como aluna especial e passei. Fiz todo um esquema no trabalho para pagar horas e poder assistir às aulas. Como chegar mais cedo e almoçar em 30 minutos.

Durante as aulas, me sentia um peixe fora d’água. A maior parte da turma era formada por professores, principalmente de ensino médio e fundamental. Foi muito bom voltar a estudar, conhecer alguns autores e temas novos, fazer amizades, mas eu senti que aquele não era meu lugar. E apesar de ter concluído a disciplina e feito o artigo final, até hoje não sei a nota.

Como eu sou brasileira e não desisto nunca, em 2014, escolhi um outro programa de pós-graduação que interesse e me inscrevi como aluna especial. Dessa vez foi um sobre estudo de linguagens. As aulas eram maravilhosas, mas era literatura demais para mim. A turma era formada por muitos professores de Letras. Eu sempre paquerei o universo da literatura. O blog existe desde 2007 e já tinha um viés literário. E meu TCC da graduação foi um site sobre poesia baiana. Mas as discussões na pós em estudos de linguagens eram literárias demais para mim, uma simples leitora e apreciadora de livros.

Depois dessas duas experiências, muitas coisas aconteceram na vida profissional. Mas o principal foi: a sedução do mundo da comunicação não funcionava mais comigo. E isso afastou até a possibilidade de tentar uma pós-graduação na área.

Então eu comecei um processo de reavaliar para qual caminho estava indo minha vida profissional e consequentemente a pessoal. Afinal, é uma vida só. E nesse processo percebi que estava infeliz. Não é que eu não gostava mais de Comunicação. Eu amo minha área de formação. Mas é que a vida de agência e empresas não fazia mais os meus olhos brilharem. Mas, por que, Jeniffer?

Porque eu não estava mais acreditando no papo organizacional de “somos uma família”. E não estava mais contente por dedicar mais de 8h do meu dia para cumprir prazos e metas para encher o bolso do patrão e meu salário não aumentar nem 1 real. Não fazia mais sentido para mim e eu precisava buscar algo que fizesse. Algo além do salário no final do mês.

Em 2017, eu pedi demissão do meu último emprego. Lembro que no dia após, eu não sabia o que fazer da minha vida. tinha um vazio inexplicável que eu não sabia ainda como preencher. Tinha medo e incertezas.

Não foi fácil aceitar isso. Não foi fácil trocar o certo pelo duvidoso. Não foi fácil não olhar para trás e acreditar que tudo foi tempo perdido e que poderia ter sido bem diferente.

Precisei de ajuda da família, dos amigos, da terapia, do universo, dos santos e orixás, para aceitar o novo começo. Por mais que eu quisesse isso, parecia que não era certo. Entre as crises de ansiedade, as incertezas e a tristeza, eu precisei também me ajudar, ser paciente e ser gentil comigo mesma.

No mesmo ano, eu resolvi que ia dar uma chance ao mundo das Letras, minha segunda opção de vestibular. Escolhi um curso EAD e até compartilhei no blog/canal a minha experiência. Voltar para graduação e ainda no formato à distância foi bem estressante, mas conclui o primeiro semestre. O estresse se deu também por causa de outro fator.  

Eu me inscrevi na seleção de aluno especial de um curso de pós-graduação. Fui selecionada. Dessa vez a aprovação tinha um gosto diferente. O curso foi indicação de uma amiga da família e veio com a frase: lá você vai se encontrar.

A primeira disciplina que eu cursei tinha um pouco de literatura, estudos culturais, filosofia, teoria e crítica feminista, e questionava a sociedade, as instituições, o capitalismo. O discurso da professora era acolhedor. E a sala era mista. Tinha letras, história, pedagogia, administração, fisioterapia, fotografia. Senti que era o meu lugar e era em casa, em Alagoinhas, na cidade em que nasci e passei minha infância e adolescência.

Em uma sessão da terapia, a terapeuta fez um exercício interessante para me ajudar a descobrir qual curso fazia mais sentido para mim, entre a graduação de Letras e o mestrado em Crítica Cultural. E a conclusão foi a seguinte: se me tirassem o mestrado em Crítica Cultural era que eu ficaria mais estressada.

A saga continuou e continua…

Até o próximo capítulo!

Conteúdo em vídeo:

Saga de uma mestranda é uma série especial de conteúdo sobre minha experiência como estudante de pós-graduação em nível de mestrado.

O que mais você quer saber dessa saga ? Eu já tenho alguns temas para posts mas deixe sua dúvida ou curiosidade nos comentários. 😉  

 

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