Em março, em busca de uma leitura interessante no Kindle, reencontrei um e-book enviado pela Editora e-Galáxia que sempre me chamou atenção pela capa e pelo título: Verão, da escritora Verônica Botelho.
Verão
Em Verão, Rebecca é uma jovem negra que cresceu em uma família branca. Sua trajetória foi marcada por episódios cotidianos de racismo que começaram em casa — sempre foi motivada a esconder o corpo e o cabelo, por exemplo. Há um certo mistério em torno da vida de Rebecca, principalmente relacionado aos seus pais biológicos. Boa parte da infância foi passada com os avós; depois, até os 18 anos, viveu com um tio paterno e sua esposa.
Um dos traços que mais me prendeu foi justamente a estrutura não linear da narrativa. Há oscilações de tempo (passado e presente) e de espaço (Toscana, Nordeste do Brasil, Catalunha, Serra Fluminense). Um dos pontos de apoio de Rebecca é o grupo de amigas formado durante os estudos na Itália, que persiste na vida adulta. Verão prendeu minha atenção principalmente porque, assim como a própria personagem, temos muitas perguntas sobre seu passado. Eu queria saber mais sobre os pais de Rebecca.
Não esperei muito e logo continuei a série Estações. Gostei da escrita da Verônica: é ágil, fluida e me lembrou um pouco a de Jeferson Tenório. O livro Verão também gera expectativa para Inverno — o que mais aconteceu com Rebecca, suas amigas e família?
Inverno
Inverno é sobre Isabel, a amiga que Rebecca fez na viagem de ônibus para o Rio de Janeiro. De fato, a história dela apresentada em Verão desperta curiosidade — uma menina negra de pele retinta que cresceu em uma família branca, sofrendo também diversas microagressões cotidianas na família. A diferença era que a família era branca e pobre, o que estimula reflexões distintas sobre racismo, já que, mesmo sem poder econômico, seus parentes preservam a ideia de superioridade racial.
Percebi que Isabel é uma personagem mais complexa e bem construída. Também acredito que a autora foi mais ousada ao tratar do racismo por meio das personagens. Há momentos que podemos chamar de literatura engajada/pedagógica, que podem não agradar a todos, mas que têm um motivo narrativo relacionado ao núcleo acadêmico e à busca pela ascensão social por meio da educação. Há ainda dramas familiares intensos, muitos babados, que prefiro não detalhar para não estragar a experiência de quem pretende ler.
A série Estações aborda a complexidade das relações interraciais no Brasil. A partir de Verão e Inverno, podemos discutir questões interseccionais que são fundamentais em uma sociedade plural como a nossa. Por aqui, Verônica e seus livros foram excelentes achados literários. Aguardo empolgada pelo próximo volume!
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