Olá! Hoje compartilho minhas notas de agosto: fragmentos dos cadernos, fotografias e descobertas culturais que marcaram o mês.
1. Imersão [Marcelo Rubens] Paiva

Em agosto, li Ainda estou aqui, de Marcelo Rubens Paiva, para o Clube do Livro Alagoinhas. Realizamos um encontro especial com o Clube de Leitura do Colégio Modelo. Foi um momento maravilhoso para conversar com os jovens estudantes sobre memória individual e coletiva, história não-hegemônica do Brasil e a importância de escutar/ler/conhecer outras narrativas para confrontar o discurso tradicional e ampliar nossa perspectiva de mundo.
Ainda estou aqui é excelente. Através da vida dos pais, Marcelo utiliza a literatura para seguir denunciando e rememorando o terror que foi a ditadura militar no Brasil – “um crime contra a humanidade”.

No embalo, li Feliz ano velho. Gostei demais do livro. A escrita de Marcelo é ágil e fluída. Essa é a obra em que ele narra os acontecimentos antes, durante e depois do acidente que o deixou tetraplégico. Mas, para além disso, há muita ironia, acidez e crítica à sociedade, ao mundo e até a Deus. Foi muito interessante acompanhar todas as descobertas, redescobertas e lembrar com o autor sobre a vida até os 20 anos de um rapaz que aproveitou muito da liberdade de ser homem.
O ponto alto de Feliz ano velho é Marcelo descobrindo que existia um outro mundo – o das pessoas com deficiência e que agora ele fazia parte desse mundo. Também gostei de ver/perceber que o menino/homem que gostava de liberdade permaneceu. Marcelo continuou curioso e ousado.
Depois das leituras, continuei minha imersão família Paiva com a reportagem Uma história inacabada: Rubens Paiva, de Miriam Leitão, que ganhou o Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo, em 2012. E assisti ao Roda Viva de 23/12/24 com Marcelo Rubens Paiva. E, sim, eu já tinha assistido ao maravilhoso Ainda estou aqui, filme de Walter Salles, com Fernanda Torres e Selton Mello.

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2. Michael B. Jordan em dose dupla e uma crítica social sobrenatural

Filme Sinners (Pecadores) – Vampiros para representar o racismo, a opressão e a violência da branquitude. A música, o blues, misturado com espiritualidade. Tudo conectado com fatos históricos relevantes da história afro-americana. As casas de música, dança e jogos exclusivamente para pessoas negras existiram e chamavam-se “juke-point” – espaços de música, resistência e celebração. A cena de todos cantando e dançando com a mistura de elementos de diversos povos e tempos é transcendental! Vale muito o play! Nunca mais tinha assistido algo assim!
- O filme está disponível na HBO MAX
3. Mais uma série sobre crimes arquivados que eu amei

Ballard: Crimes sem resposta foi uma boa surpresa no catálogo da Prime Video. A série mostra o cotidiano de uma unidade especial da polícia que investiga crimes arquivados. De modo geral, não tem nada novo, mas eu curto a dinâmica – uma equipe heterogênea complementar, uma líder detetive com problemas no passado, um caso por episódio, mas um caso mestre que é concluído apenas no final da temporada.
Alguns pontos interessantes: se tem uma detetive no comando, temos também questões de machismo e misoginia; a Ballard tem um lado solar – avó Tutu, a cadela Lola, o surf e o mar; é um spin-off da série Bosch.
4. Somos o 3º país que mais utiliza o chatGPT
Nós adoramos uma novidade mesmo, né? Saiu uma pesquisa da OpenAI, em agosto, sobre o uso do chatGT e estamos bem bonitos no pódio. Os principais usos são para redação e comunicação, aprendizado e capacitação, programação, ciência de dados e matemática. Eu uso bastante a IA por aqui com a ferramenta Perplexity, que eu chamo carinhosamente de Peps. Escolhi essa porque tenho a versão PRO através do programa Vivo Valoriza. Mas também porque a Peps sempre me apresenta as fontes do conteúdo gerado – algo essencial para meu perfil profissional (jornalista, professora e pesquisadora). Uso muito para pesquisas profundas de tópicos de estudo e interesse. Eu sempre tive o hábito de realizar pesquisas profundas e as ferramentas do Google eram minhas companheiras. Agora tenho tudo na Peps. Críticas e polêmicas à parte, virou uma ferramenta essencial na minha rotina de trabalho.
5. Da lista de possíveis representantes do Brasil no Oscar 2026

O filme Manas nos apresenta Marcielle, uma menina de 13 anos que mora com a família em uma comunidade ribeirinha na Ilha do Marajó, no Pará. Por causa dos relatos da mãe, a garota mantém uma imagem idealizada da irmã mais velha, Claudinha, que teria deixado a região após “encontrar um homem bom”. Essa narrativa se torna o principal referencial de Marcielle sobre as possibilidades de transformação de vida.
O filme tem um começo lento e é cheio de “silêncios” e não-ditos. Com o tempo descobrimos que tanto silêncio esconde muitos segredos e dores relacionados à violência de gênero, abuso infantil e violência doméstica. A balsa é sinônimo de prostituição. Os abusos são justificados com fé e normalidade. A hipersexualizacão infantil é abordada de forma sutil – um batom, um esmalte. É um filme bem cru. Temos poucos momentos de respiro aliviado. São mais respirações ofegantes de medo e raiva. Vale demais o play no Telecine!
6. Um exemplo do pacto da branquitude brasileira em A mulher da casa abandonada

O podcast famoso de Chico Felitti sobre um caso real de escravidão contemporânea ganhou uma excelente adaptação audiovisual com a série documental A Mulher da Casa Abandonada. Desta vez, podemos ouvir o relato da sobrevivente, Hilda, e acompanhar como foi o processo de construção da denúncia, a investigação do FBI e a repercussão do caso nos EUA. É uma produção que nos mostra o quanto ainda existe uma herança escravocrata no imaginário e nas práticas da sociedade. Foi chocante ouvir Margarida dizer que Hilda foi um presente dos pais e também ouvir pessoas defendendo o comportamento dela, o que torna o documentário um bom exemplo do pacto da branquitude brasileira.
7. Registros do cotidiano
Alguns dos registros fotográficos que mais gostei de fazer em agosto de 2025







Publicado originalmente na newsletter Notas da Vida de Jeniffer Geraldine.