Tem uma cena no meu imaginário de leitora que é uma pessoa sentada folheando um caderno. Um caderno com rabiscos, notas pessoais, anotações sobre livros e coisas interessantes sobre a vida. Pode ser um diário ou mais que isso. É uma cena romântica de folhear páginas do caderno e relembrar de momentos com um sorriso leve no rosto.
Eu gosto dessa cena. De ver e de me imaginar fazendo parte desse quadro. Mas hoje em dia com tantas ferramentas digitais ver algo assim é quase como ir a um museu visitar uma obra de arte.
Nos últimos anos, pensando no quanto essa cena romântica e meio nostálgica me traz uma alegria genuína, resolvi equilibrar um pouco a praticidade do digital com o romântico do papel. Escolhi utilizar uma ferramenta digital com possibilidade de escrita à mão no tablet e um caderno argolado com folhas amareladas para fazer qualquer tipo de anotação. Preciso dizer também que no tablet escolho sempre a folha em tom amarelado para ficar o mais próximo possível da experiência física.
Acredito que o tipo de dilema digital x analógico ocorre mais com pessoas da minha geração, na faixa dos 30 anos. A geração que cresceu customizando cadernos, brincando nas ruas, mas também frequentando aulas de informática para aprender digitação e a usar editor de texto. Sem falar nos diários virtuais, os blogs. Havia o diário com cadeado escondido embaixo da cama dentro de uma caixa de sapato. E o blog com qualquer nome estranho que nos dava a confiança do anonimato.
Pula para 2023, após uma pandemia, que nos confinou em casa com estudo, trabalho e lazer on-line. Quem era de alguma maneira resistente aos encantos do digital, foi obrigado a perceber que há muitas vantagens na modalidade virtual, uma delas é a praticidade. Tudo, de qualquer lugar, acessível, rapidinho com um clique.
Ontem li no Twitter um relato de uma professora de 52 anos de idade dizendo que aprendeu e tomou gosto por estudar on-line. Inclusive eu fui aluna dela em um curso ministrado durante a pandemia, algo que seria mais complicado de acontecer no presencial já que moramos em estados diferentes.
Há inúmeros benefícios. Só que não podemos negar que existem muitas questões para debatermos como o uso excessivo de telas, a demanda 24/7 (24 horas por dia, 7 dias por semana), o FOMO (Fear of missing out – o medo de ficar de fora), a NOMOFOBIA (No-mobile phobia – pavor irracional de ficar sem o celular), as distrações digitais (notificações) que contribuem com a ansiedade e o estresse. E atenta a tudo isso é que eu fico voltando para a cena da pessoa sentada folheando um caderno.
A cena romântica e nostálgica é quase como uma suspensão do tempo acelerado que vivemos. A pessoa sentada folheando o caderno nos traz atenção ao momento presente, desconexão das redes sociais digitais, um descanso da exposição à iluminação artificial, reflexão sobre o que escrevemos e o que lemos.
Por aqui eu vou continuar tentando recriar momentos em que ativo meu modo romântico e nostálgico para ser aquela pessoa sentada folheando o caderno porque como disse me traz uma alegria genuína além dos benefícios relacionados a suspensão do tempo acelerado.
Vale para cadernos, livros e conversas.
Oi, sim, escrever no caderno traz mesmo essa presença e nostalgia. Eu sigo utilizando os dois também, cadernos e digital. Beijos
muito bom conciliar! bjs, Fran!