Você já deve ter visto em várias redes sociais algumas tirinhas em que uma pessoa pergunta para outra se ela está bem. A gente sempre costuma responder que está bem. Mas, ultimamente, estamos sendo obrigados a deixar as aparências de lado e dizer que não, não está tudo bem.
O Brasil está passando por uma crise política intensa e qualquer pessoa que se preocupe com o futuro democrático do país não está bem. Os verbos atuais são resistir e lutar.
Você também já deve ter visto por aí um tweet sobre 2018 ser o ano em que muita gente está chorando por política. Que ano louco! Chorar por crush? Pelo boleto atrasado? Não! Estamos sofrendo por política. Que tempo louco!
Em todas as redes sociais o assunto é apenas política. Eu nunca gostei do tema, mas a gente cresce, cria consciência do lugar social que ocupa no mundo, estuda, adquire conhecimento, e fica impossível não se importar.
Semana passada, eu resolvi ficar um dia longe de tudo isso. Já estava cansada, precisava focar em alguns projetos e tentar não enlouquecer.
Mas um dos temas da pesquisa que estou fazendo é colonialidade do poder. E quanto mais estudo, quanto mais tento compreender/melhorar o presente e o futuro olhando pro passado (esse exercício é de extrema importância em qualquer situação da vida), eu percebo que não posso deixar de falar de política, que não posso deixar de defender meu candidato que representa a democracia, a humanidade, o professor Haddad.
Minha mestra, María Lugones, diz que raça e gênero são duas ficções poderosas. É uma das frases dela mais significativa para mim. É forte. E diz, para bom entendedor, o que é raça e o que é gênero. Raça e gênero dividiram o mundo, classificaram o mundo entre o humano e não-humano. Tudo isso começou com as colônias e não acabou com elas. Permanece até hoje. É isso que chamamos colonialidade do poder. Essa colonialidade ajudou a constituir e manter o padrão de poder capitalista.
O que era humano e não-humano naquele tempo ainda permanece hoje. Humano é o homem branco heterossexual cristão. Não-humano é a mulher (principalmente não-branca), o negro, o índio, tudo que não é homem branco heterossexual cristão. Quando pensamos em colonialidade do poder, pensamos também em descolonização do saber, do ser, do gênero. Descolonizar é um movimento de resistência, de luta contra o processo de redução das pessoas, contra a desumanização.
A outra opção política para o segundo turno vive no tempo da colônia, vive em outros tempos, vive no passado. Eu não vivo nesses tempos. Minha família e meus amigos também não.
Eu voltei para as redes sociais, voltei a fazer a campanha, voltei a defender o que eu acredito porque resistir e lutar fazem parte da minha vida.
Mas sigo na resistência e na luta com autocuidado, tentando não enlouquecer. E para isso recorro aos grupos de amigos no WhatsApp (que não serve apenas para disseminar fake news), aos familiares democráticos (risos), tentando conversar com quem está aberto ao diálogo, espalhando mensagens positivas nas minhas redes sociais, ouvindo boa música, fazendo leituras leves, assistindo vídeos da Monja Coen no YouTube e a série Sex and the City (novo vício). Tentando ser leveza em meio ao caos.
boa música: Dona de mim (Iza) | Believer (Imagine Dragons) | CD Brasileiro (Silva) | Sol (Vitor Kley)
leituras leves: Amoras (Emicida) | Se não eu, quem vai fazer você feliz? (Graziela Gonçalves)
vídeos da Monja Coen: canal MOVA
[ a foto de capa é do livro “Amoras”, do Emicida]