Na edição de janeiro/2015 do Jornal Rascunho, Gustavo Czekster escreveu o ensaio Espelho negro em que questiona sobre a função da literatura. No início do texto, Czekster conta a história do livro Os Lusíadas, de Luís de Camões. Camões precisou escolher entre o livro e a amada, e “ao salvar Os Lusíadas, Camões tratou o livro como um objeto vivo, pensando nas dezenas de vidas que poderiam ser influenciadas pela sua obra. Ele não conseguiria viver sem a sua criação. É possível inclusive que tenha nadado ainda com mais afinco, sabendo que carregava consigo não um aglomerado de versos ou um pacote, mas a própria alma.”
A partir desse episódio, Czekster vai tratar sobre o que é a literatura na vida de escritores e leitores. O que é a literatura para o meio acadêmico e críticos, para os escritores contemporâneos e seus leitores, e para o mercado editoral?
Para cada ponto de vista, haverá um motivo de existência. Como disse Czekster, “Qualquer função que se escolha representa uma possibilidade de ver a literatura, mas não esgota as suas características múltiplas.”
Literatura é arte e a arte é subjetiva, logo a função que essa arte desempenha na vida de cada um, seja ele escritor ou leitor, é única.
Tem escritor que escreve para colocar no papel suas inquietações e percepções do mundo, e que não consegue viver sem essa prática. Um dos relatos mais bonitos sobre esse assunto é o da escritora Eliane Brum, em sua recente autobiografia Meus desacontecimentos – a história da minha vida com palavras:
Às vezes me perguntam o que aconteceria comigo se não existisse a palavra escrita. Eu respondo: teria me assassinado, consciente ou não de que estava me matando. É uma resposta dramática, e eu sou dramática. O que tento dizer é que, se não pudesse rasgar o papel com a caneta, ainda que numa tela digital, eu possivelmente rasgaria o meu corpo. E, em algum momento, o rasgaria demais. – pag 17
Para alguns leitores, a literatura vai muito além de um simples entretenimento. Os livros fazem parte da formação pessoal e profissional. Ajudam a ver o mundo a partir de outras perspectivas. Abaixo destaco um trecho do livro O oceano no fim do caminho, de Neil Gaiman. Na história o personagem principal confia mais nos livros do que nos humanos e é quase impossível não se identificar.
Desde pequeno eu sempre pegava várias ideias emprestadas dos livros. Eles me ensinaram quase tudo o que eu sabia sobre o que as pessoas faziam, sobre como me comportar. Eram meus professores e meus conselheiros. – pag 92
Eu leio para preencher os vazios do dia, da alma e do coração. Ao invés de me sentir entediada ou ficar pensando nos problemas, procuro na estante uma nova aventura, um novo romance, a história de alguém para conhecer e assim vou preenchendo a vida.