Já faz um tempo que estabeleci uma relação de admiração com a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Começou com seu discurso no TEDx Talks “Sejamos todos feministas”, em que na época foi de fundamental importância para que eu me reconhecesse ainda mais como feminista. Em seguida, li outro livro de não ficção da autora,“Para educar crianças feministas: Um manifesto”, que acredito precisa ser lido por todos, afinal nos ajuda a desconstruir muitas questões sobre ser menino e ser menina.
Após conhecer o lado de ativista feminista da autora, resolvi ler seus livros de ficção. Comecei pelo primeiro, “Hibisco Roxo”, e a partir dele conheci outro discurso famoso da Chimamanda, “O perigo de uma única história”. Se a autora já tinha me feito um convite para refletir sobre o feminismo, o convite agora era para refletir sobre a colonização europeia e seus efeitos na vida dos povos africanos e todos os outros povos colonizados.
No caso de “Hibisco Roxo”, a colonização trouxe para a família da narradora-personagem Kambili a violência doméstica, a opressão machista, o autoritarismo e o fanatismo religioso. Quando a Nigéria sofreu a colonização europeia foi pregado qual modo de viver (e de crer) era o correto e o melhor. O pai de Kambili, Eugene, negava sua língua materna, as crenças e tradições do seu povo, e até seu pai. Isso não justifica as atitudes dele, mas nos faz querer criticar e rebater qualquer possibilidade de poder que dite verdades e histórias únicas.
O mais recente livro da autora publicado no Brasil, pela Editora Companhia das Letras, é o “No seu pescoço”. Publicado pela primeira vez em inglês, em 2009, a obra reúne 12 contos. O convite é mais uma vez para refletir, através de mulheres e homens africanos, os efeitos da colonização e do imperialismo ocidentais.
Muitos dos contos trazem a divisão cultural, social e política, “eles e nós”. Eles como sendo a potência ocidental, os americanos brancos, e nós, como os colonizados, o outro, o diferente, e o imigrante. Digo, “nós”, porque é nessa posição que a Chimamanda nos coloca principalmente no conto que dá título ao livro, quando escolhe usar o “você”, segunda pessoa do discurso, ao invés de “ela/ele”, terceira pessoa, mais comum na ficção.
No conto que dá título ao livro, a personagem principal Akunna ganhou na “loteria do visto americano” e foi para os Estados Unidos viver com um tio. Ao chegar nos EUA, Akuna sofre do que chamamos choque cultural. Tudo é diferente do que ela vivia em Lagos e muito diferente do que ela e seus parentes imaginava como vida americana. O choque ficou ainda mais evidente quando ela começa a se relacionar com um rapaz norte-americano.
Já em “Os Casamenteiros”, temos o casamento de Chinaza Okafor com Ofodile, nigeriano que morava há onze anos em Nova York e estudava medicina. Ofodile vivia como os americanos e tentava ao máximo ser como eles, uma pequena prova disso é que só usava seu nome em inglês, Dave. Quando Chinaza foi morar com ele, a todo momento o seu novo marido ensinava-lhe como deveria se comportar, falar, o que deveria comer e cozinhar, conforme o modo de vida americano. Chinaza também teve que passar a usar seu nome em inglês, Agatha Bell.
No último conto do livro “A historiadora obstinada”, Chimamanda narra de forma emocionante o processo de colonização realizado através das missões anglicanas e a luta de uma mãe para salvar sua terra e suas origens.
Os convites de Chimamanda, através da literatura, são irrecusáveis. São convites que nos tiram do lugar comum, do normalizado, da história única, e nos faz enxergar outros mundos, outros povos, que lutam há séculos para existir além da margem.
Aceite os convites! Leia Chimamanda. 😉
Livros na Amazon:
Tenho o Sejamos todas feministas no meu iBooks mas ainda nao consegui ler. Quero muito ler Hibisco roxo e esse novo, No seu pescoço, não conhecia ainda, soube agora. Já li algumas frases dela e achei lindas e perfeitas todas. Mulher incrível que precisa ser divulgada e lida.
Bjos flooooor
http://cariocadointerior.com.br
Priscila, leia o Sejamos todos feministas. É maravilhoso. Hibisco roxo também.
boas leituras
bjão
Pingback: É tempo de ouvir outras histórias - Jeniffer Geraldine | Blog