Journaling – escrita para o autoconhecimento

Semana passada fui surpreendida por uma insônia. Faz bastante tempo que a insônia não me visita. O sono é um dos meus melhores amigos. Por aqui ele tem a mágica da reparação. Estou com algum problema? Vou dormir! Viver está complicado? Vou dormir! Mas naquele dia a insônia se fez presente. Achei um desaforo.

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Não dormi bem e consequentemente não acordei bem. Estava inquieta demais e sonolenta. Mas ainda assim tentei seguir com a minha rotina. Fiz minha lista de tarefas no caderno de rotinas. Fiz a leitura matinal. Mas eu só consegui passar disso quando sentei para escrever. Surgiu uma necessidade imensa de escrever e aliviar a cabeça. De alguma forma até recompensar a minha mente pela noite perdida e a visita da insônia. Eu respeitei o desejo e escrevi. Não foi nada romântico, do estilo caneta e papel em mãos. Foi algo talvez cru, seco, objetivo – eu digitando velozmente nas teclas do teclado e fazendo surgir palavras em um bloco de notas no computador. O romântico é deixado de lado, apenas para atender um desejo ardente e fugaz. Ia digitando e a respiração acompanhando a rapidez, até chegar naquela respiração profunda e aliviante seguida do ponto final no bloco de notas. Depois desse momento catártico, me senti pronta para seguir com o dia.

A escrita para mim é um exercício terapêutico. Escrevo para aliviar os pensamentos, as dores, emoções. Escrevo para materializar o que penso, buscar soluções. Escrevo para fazer palpável tudo que se passa na cabeça. Quase sempre não releio o que escrevo. Só quero colocar para fora. No momento em que me proponho a escrever, reconheço a vida que estou levando e percebo se ela está alinhada a quem eu quero ser. 

Há dois movimentos contemporâneos que me ajudam a colocar em prática a escrita e me lembram constantemente que escrever também faz parte dos processos de cura e autoconhecimento. São eles: páginas matinais e journaling. Não se faz necessários diários com cadeados e muito menos a formalidade do “querido diário”. Basta um lugar (físico ou digital) para colocar para fora os pensamentos.

O movimento das páginas matinais ficou bastante conhecido por conta do O caminho do artista, da Julia Cameron. O livro de Cameron é considerado a bíblia da criatividade e tem o objetivo de ajudar a despertar o potencial criativo e romper bloqueios. E a autora considera as páginas matinais como uma das ferramentas essenciais para a recuperação criativa. A proposta é escrever “três páginas escritas à mão, com pensamentos em livre associação”.  Ou seja, escrever quase no fluxo do pensamento, sem pensar muito no que está escrevendo, apenas escrever. Há ainda a recomendação de não levar em conta o humor do dia. Aconteça o que acontecer, escreva as três páginas matinais. A autora garante que “as páginas lhe ensinarão a parar de julgar e apenas escrever.”

Journaling em português significa “registro em diário”. Mas a ideia é ir além dos simples registros sobre o dia, como o que fiz, o que comi, o que comprei e paguei. A arte do journaling é para você escrever como se sentiu, colocar para fora os pensamentos insistentes, aliviar a mente de modo geral. Ao contrário das páginas matinais, acredito que o Journaling é mais livre. Você escreve quantas páginas sentir vontade no dia, assim como escreve quando for necessário para você.

Páginas matinais ou Journaling ou simplesmente escrever sobre a vida são formas de conexão com si mesma. Eu pratico a escrita terapêutica desde antes da terapia (que comecei com 30 anos). Escrever sempre foi um lugar seguro, um lugar de encontro, de descobertas e recomeços.

O que preciso é para fazer essa conexão? / O que é preciso para praticar o journaling?

Compromisso: Firme o compromisso com o seu processo de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.

Uma ferramenta digital ou analógica: caderno simples ou sofisticado, aplicativos de journaling, software de escrita, ferramentas de edição de texto, bloco de notas.

Um plano simples para implementar o novo hábito de escrever sobre os dias: James Clear, autor de Hábitos Atômicos, recomenda a técnica de empilhamento de hábitos. Depois que você fizer um hábito atual, encaixe logo em seguida o novo hábito. Exemplos: Logo após acordar, vou escrever sobre os meus dias. Ou logo após o jantar, vou para o quarto escrever sobre como foi meu dia. Para isso também é bom preparar o ambiente. Deixe seu caderninho do lado da cama ou adicione um alarme/lembrete.

Recomendações de aplicativos

Daylio Registro de humor e hábitos. Há também espaço para escrever sobre o dia e adicionar foto. Além do humor, o aplicativo vem com alguns itens para marcamos levando em conta o que fizemos em determinadas áreas: social, passatempo, sono, alimentação, saúde, versão melhor de mim.

Disponível para Android e iOS.

Journey – Diary

Escrever sobre o dia, adicionar fotos, incluir localização, rastrear emoções. É super completo e dá para rever as anotações com facilidade por conta da visão por calendário.

Disponível para Android e iOS.

Como uso o Evernote para Journaling

Um caderno chamado “Journaling”

Uma nota para o mês inteiro: A cada dia abro a mesma nota, incluo a data e escrevo. Às vezes também adiciono imagens e fotos. Adiciono a nota em atalhos para facilitar o acesso.

Uma nota para eventos/viagens: Criei um template Journaling – Eventos importantes paraescrever sobre eventos especiais e viagens. Mas já usei esse mesmo modelo para escrever diariamente. Vou deixar o link da nota para você salvar como cópia o template e iniciar agora o seu journaling digital.

  • E se você é da turma do Notion, tem um template também!

Veja também:

Livro O caminho do artista na Amazon

Livro Hábitos Atômicos na Amazon

Como o journaling me ajudou com bloqueio de escrita acadêmica

Crônica | Sobre a escrita

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2 comentários em “Journaling – escrita para o autoconhecimento

  1. Quando era adolescente nos anos 90 a gente fazia agenda: uma agenda literal, onde a gente escrevia como tinha sido o dia. Tenho as minhas até hoje e é uma mistura de nostalgia com vergonha alheia reler o que se passava na minha cabeça naquela época! Depois veio a era dos blogs e eu também deixei tanto de mim pela internet… Mas desde 2016 resolvi voltar a escrever numa agenda física, de papel, com caneta e muitos adesivos! É tão gostoso…

    • É muito gostoso mesmo! Aqui vou alternando, às vezes tô pro papel, em outras no digital.