Joe Speedboat, do escritor holandês Tommy Wieringa, publicado no Brasil pela editora Rádio Londres com tradução de Cristiano Zwiesele do Amaral, é um livro sobre superação e amizade.
Fransje, nosso narrador de 15 anos, sai do coma após um acidente que o deixou sem fala e sem alguns movimentos. Ele consegue se locomover com a ajuda de uma cadeira de rodas, sua charanga, e se comunica através da escrita que é feita com seu braço direito, único membro que ele não perdeu o movimento. É fã do espadachim japonês Miyamoto Musashi e é com a leitura de seus livros sobre luta e estratégia que Fransje busca inspiração para viver. Frans também gosta de escrever e cultiva diários sobre sua vida e o lugar em que mora.
A saída de Frans do coma coincidiu com a chegada de Joe Speedboat em Lomark. Joe chegou como um foguete na cidade pacata e pouco atraente. Logo no dia da mudança sua família sofreu um acidente e o pai veio a falecer. Joe tinha um hobby estranho. Ele gostava de soltar bombas e fogos de artifício e foi em um desses momentos que Joe e Frans se conheceram. Logo no primeiro instante, Frans percebeu em Joe tudo o que ele gostaria de ser, mas que não era por conta de suas limitações. Speedboat era inteligente, seguro de si, exalava vida e alegria.
Já entendi o que o menino tem que emputece meu irmão Dirk. Tudo nele irradia luz e diz: ‘Eu não tenho medo’. Joe Speedboat, colocador de bombas, estraga-sonos – com seu short jeans cortado e chinelos de couro curtido. Onde você esteve todo esse tempo?. – pag 17
Em Lomark, todos, inclusive a família, via Frans como alguém diferente e isso refletia na vida do menino. Ele acreditava ser motivo de pena e chacota. Tinha poucos amigos e seus dias na escola não eram tão agradáveis. Acontece que após a chegada de Joe tudo mudou na vida dele. Speedboat era admirado por vários outros garotos e garotas e conseguia fazer amizade mais fácil que Frans. Até que um dia formou-se um grupo: Joe, Christof (o menino que morava na casa em que o carro de mudança da família de Joe bateu), Engel (um rapaz educado que sempre ajudava Frans a fazer suas necessidades na escola) e Fransje, que fazia de tudo para ficar sempre próximo dos garotos.
A maioria das pessoas é medíocre, algumas até mesmo francamente inferiores; ainda assim, todas são muito sensíveis à grande concentração de energia e talento daqueles que estão acima da média. Se não dispõem da matéria que as leve a brilhar, tampouco querem que você brilhe. Eles não têm talento para admiração; apenas para o servilismo e a inveja. São ladrões de luz. – pag 76
Joe era muito inventivo e um dia ele resolveu criar um avião. Foi a partir desse momento que a amizade entre os garotos se fortaleceu. Joe precisava de alguém forte para realizar alguns trabalhos braçais na construção do avião e logo lembrou do braço forte de Frans. Aquele foi um grande momento, Joe viu potencial em um garoto que muitos consideravam inútil e isso só aumentou a admiração que Frans sentia por Speedboat.
Fransje deixou de ser apenas um observador e ouvinte e passou a participar, na medida do possível, das traquinagens e invenções dos outros garotos. Ao passar das páginas a gente acompanha o crescimento desses meninos, principalmente de Frans e Joe, seus sonhos, medos, a descoberta do amor, do sexo e do álcool.
Speedboat era uma pessoa inquieta, que sempre buscava novos desafios, e isso ajudou Fransje a redescobrir a sua própria vida. Existia uma saída para os dias tristes e vazios, mas era preciso vencer o medo, pensar fora da caixa e ter força de vontade. Foi tudo isso que Joe mostrou para Frans quando o incentivou a ser competidor de quebra de braço e sair do marasmo de Lomark. Mais uma vez o amigo viu potencialidade onde para muitos não existia nada além do fracasso.
Tommy Wieringa nos mostra como a amizade, entre dois garotos tão diferentes, os ajudou a amadurecer e vencer as adversidades da vida. É um livro inspirador que nos apaixona não só por conta dos seus personagens encantadores e imperfeitos, mas também pelas surpresas ao passar das páginas. Afinal quantas coisas maravilhosas e surpreendentes podem acontecer quando a gente permite que alguém pegue na nossa mão e nos leve para fora da nossa zona de conforto?
– Tudo não passa de um jogo, sabe? – disse Joe, finalmente. – Apenas um jogo. Se voltarmos com uma boa história para contar depois, já terá valido mais que a pena. – pag 225
>> Veja também o vídeo sobre Joe Speeboat
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