Se você está falando de amigos ou familiares, pessoas que você admira ou despreza… Você tem que individualizar seus desejos dos deles de modo a honrar seu verdadeiro eu. Pode ser um processo emocionante e doloroso, mas quem quer ver ou ser uma orquídea negra que nunca se abre totalmente?”
Ouvi essa frase na Série “Ela quer tudo”, produzida e dirigida por Spike Lee, que tem como personagem principal Nola Darling (DeWanda Wise), uma artista negra do Brooklyn.
A primeira temporada da série foi focada nos relacionamento afetivos de Nola. Ela tinha três namorados e a junção deles formava um homem ideal. São episódios marcantes e impactam por causa da arte e da liberdade sexual de uma mulher negra.
Mas a segunda temporada. Ah… A segunda temporada é uma obra de arte. Boa música, celebração e honra da memória e cultura de personalidades negras e latinas. Mais crítica social e política ácida. No meio disso tudo, vemos Nola tentando se conectar consigo mesma, após o fim de quatro relacionamentos e em busca do seu propósito como artista.
Ela queria representar uma comunidade.
Ela queria fazer uma arte política e engajada.
Ela queria tudo.
Distração demais. Muita expectativa.
Até que ela começa a mergulhar nas suas raízes, na espiritualidade, indo em busca de inspiração para chegar a sua verdadeira autenticidade como artista. Nola começa a se individualizar. A olhar para si e a partir desse olhar fazer uma leitura de mundo única e autêntica. E assim tentar viver nesse mundo também de forma única e autêntica. Responsável e consciente das suas escolhas.
Nós somos contaminados a todo momento pela subjetividade do outro, mas precisamos saber como proteger a nossa identidade, quem somos e o que queremos. Dar uma pausa nas vozes dos outros que insistem em nos dizer como devemos ser, como devemos pensar, como devemos sentir. E deixar falar mais alto a voz dos nossos desejos.
Aprender a individualizar desejos.
Nola fez isso. E recebeu muitos aplausos e muitas críticas. É um processo doloroso. Nola assume essa dor e manda um recado: é preciso ser destemida e ao menos tentar.
Anotei o recado, Nola! 😉
*As duas temporadas de “Ela quer tudo” estão disponíveis na Netflix
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