– Aí, Gregor, vou descobrir o tesouro que você escondeu aqui embaixo, seu milionário disfarçado.
Pulei com a pose do Tio Patinhas, bati a cabeça no chão e foi aí que ouvi a melodia: biiiiiiin.
Estava debaixo d’água, não mexia os braços nem as pernas, somente via a água barrenta e ouvia: biiiiiiin.
Assim inicia-se Feliz Ano Velho (Editora Objetiva, 2010), um relato autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva, que aos vinte anos, enquanto estudava engenharia agrícola na Universidade Estadual de Campinas, sofreu um acidente.
Ao mergulhar em um lago de meio metro, Marcelo fraturou uma vértebra do pescoço e ficou tetraplégico. E então aquele jovem que estava levando uma vida de muito namoro, música e fazia tudo o que queria, vê seu destino totalmente alterado por ele mesmo.
Até pouco tempo eu não tinha qualquer coragem em ler este livro, pois sabia que derramaria um rio de lágrimas, mas um dia ao passar pelos livros que tinha no meu e-reader decidi ler a primeira página e a partir daí não consegui mais parar. Marcelo nos conta como foi a sua vida durante o período em que estava na UTI, nas vésperas do Natal – pois foi quando aconteceu o acidente, o drama de não saber o que estava acontecendo com o seu corpo, se poderia voltar a andar e fazer as atividades que até então ele desenvolvia, as visitas que recebia, e toda a sua rotina no hospital. E apesar do peso da história, o autor consegue nos contar tudo com muito humor, ou seja, nem só de lágrimas é feito o livro.
Uma das coisas mais lindas que vi neste livro foi a solidariedade dos amigos, que estiveram com ele o tempo todo, dando apoio e força para que ele saísse daquela situação.
Durante a leitura vamos descobrindo coisas sobre a vida de Marcelo, pois ele faz vários flashbacks entre os momentos que antecederam o acidente, por exemplo, quando seu pai é levado pela policia na época da ditadura e claro, os momentos de sua recuperação, as dificuldades que ele enfrentaria e as descobertas que foi tendo ao longo do tempo.
A narrativa acontece em primeira pessoa e em vários momentos Marcelo faz uso de gírias o que permite uma aproximação muito maior dos leitores, pois o livro torna-se quase uma conversa. Ele nos conta os vários relacionamentos afetivos que teve, sua chegada em casa e o medo de não conseguir viver fora do hospital assim como as encrencas que teve com a enfermeira contrata por sua mãe.
Ao final percebemos a clara mudança de Marcelo, e o tanto que ele amadureceu. Notamos que ele percebe que apesar de a medicina não conseguir dar alguma expectativa com relação ao seu quadro ele precisa aprender a ser independente para conseguir levar uma vida melhor ainda com tudo o que aconteceu.
Ler Feliz Ano Velho foi para mim uma experiência única e muito rica. Chorei logo na primeira página, pois não tem como não se sensibilizar com a situação, mas como já disse, também sorri muito. Não tem como não parar e refletir um pouco sobre a nossa própria vida, e não se solidarizar ao pensar nas dificuldades que o personagem enfrenta, como por exemplo, assistir a um filme, mesmo Marcelo dizendo que este não é o seu objetivo. Essa é uma leitura que eu recomendaria para qualquer jovem, ou melhor, para qualquer pessoa.
? Feliz Ano Velho ganhou uma edição nova este ano e o autor lançou seu novo livro Ainda estou aqui
Submarino / Americanas / Amazon / Saraiva
Thata, adorei sua resenha e fiquei curiosa para ler o livro. Beijos!