Olá, amigos. Para estrear a coluna Hell’s Kitchen no blog Subindo no Telhado resolvi falar de algo para a semana “Leia Brasileiros” que tem consumido a maior parte das minhas leituras, os quadrinhos.
Venho lendo muita coisa, desde histórias clássicas de super heróis até obras mais “alternativas”, então nada melhor do que compartilhar minhas impressões sobre o excelente Dois Irmãos, dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá (Companhia das Letras, 2015). Os dois, vencedores do Prêmio Eisner pelo já consagrado, Daytripper, nos presenteiam com uma “adaptação” da obra do escritor manauara, também premiado, Milton Hatoum. Ainda não tive o prazer de ler o livro e estava planejando fazê-lo antes da leitura do quadrinho, mas não resisti. Então vamos lá.
Dois irmãos nos apresenta a saga de uma família de libaneses estabelecidos em Manaus, no início do século XX, mas fortemente centrada na relação conflituosa entre os irmãos gêmeos Omar e Yaqub. O quadrinho inicia a trama mostrando Zana, a matriarca da família, vagando sozinha pela antiga casa da família e a solidão da personagem já nos invade em apenas três ou quatro imagens. A partir de então, a história nos é apresentada pela lembrança dos personagens. Temos dois irmãos ainda crianças, dotados de personalidades bastante distintas que já rivalizam pelas questões cotidianas, como à atenção das meninas, por exemplo.
Após um sério entrevero entre os dois a família decide enviar Yaqub para viver em uma vila no Líbano enquanto Omar, o preferido de Zana, fica em Manaus sob as asas de uma mãe ciumenta, passional e controladora. Cinco anos mais tarde, Yaqub retorna e as diferenças entre os dois estão ainda mais acentuadas. A partir daqui vemos os rumos distintos que cada um vai tomar e a maneira como a família vai se “dividir” com a difícil relação dos dois. Yaqub, o irmão que foi ao Líbano, torna-se um jovem responsável, estudioso e trabalhador enquanto Omar é preguiçoso e boêmio. Os laços familiares se transformam. E assim começamos a acompanhar a saga desta família ao longo de muitos anos.
A parte histórica da obra aborda alguns aspectos que ainda não tinha visto em outros trabalhos, já que a maioria, pensando o Brasil, é ambientada no sul, sudeste e nordeste. Nos deparamos com o crescimento e a transformação de Manaus na virada do século XIX para o XX e o processo de urbanização e planejamento da cidade. É possível notar a mudança em diversos momentos, mas o que mais me marcou foi a demolição da Cidade Flutuante.
Outro aspecto interessante é a imigração libanesa para o Brasil, já que a região amazônica recebeu um grande número de libaneses, principalmente no boom da exploração de borracha, que vinham para trabalhar no comércio. Vemos o país se transformando ao olhar do habitante da cidade. Bem interessante é a abordagem do Golpe Militar em 1964, presente principalmente quando Laval, um professor de francês, comunista e amigo de Omar, surge na história.
Ao escrever esta resenha percebo a maneira como a obra me marcou e como a história está viva em minha cabeça. A arte em preto e branco se encaixa perfeitamente para a ambientação da obra e não sei porque, mas acho que se fosse colorida não teria a mesma força. O jogo de sombras nos desenhos e o traço são fantásticos e dão vida à cidade e aos personagens. Omar, Yaqub, Halim, Zana, Laval, Domingas e seu filho ganham vida. Não curto dar nota para livros e hqs e acho até um pouco injusto. Então prefiro dizer se gostei ou não. Se gostei? Claro. Se recomendo? Pra ontem. Leia já!!!
Até a próxima.
Me acompanhe no instagram!
Submarino / Livraria Cultura / Saraiva / Amazon
Antes de tudo, seja muito bem vindo ao SNT!
Já tinha incluído ele em minha lista de próximas leituras; mas após esse relato, que ativou ainda mais a curiosidade, ‘Dois Irmão’ entrou na lista de “Próxima aquisição”.
Acho uma sacada bem legal, e que deve ser louvada e copiada por outros autores brasileiros, o fato de ambientar a história fora do eixo comercial e do lugar comum (no sentido de desgastado pela vastidão de trabalhos, nas mais diversas áreas, que se tem publicado com esses cenários).
Assim como a grande maioria dos brasileiros, incluindo historiadores [com exceção dos moradores da região/Estado e pesquisadores desta], eu pouco conheço da história de Manaus. E no que diz respeito ao período do regime militar aqui no Brasil, as minhas leituras, para além da já mencionada região privilegiada, se concentraram no Estado da Bahia. Assim, a junção desses dois elementos provocaram uma ebulição em minha curiosidade e desejo de ler esta obra. Por isso, ela ganhou o espaço da primeira na lista de “Próxima Aquisição”.
Parabéns pelo texto e obrigado por nos proporcionar o prazer de ter uma ótima indicação para leitura.
Abraço!
Puxa Cello Reed, muito obrigado mesmo por suas palavras. Estou muito feliz de fazer parte do SNT e agradeço a Jen pela oportunidade de escrever sobre algo que estou curtindo muito. Dois Irmãos é uma obra pra todo mundo, não só pra quem curte quadrinhos. E é justamente por abordar algumas questões importantes para o país sob a ótica de Manaus é que todos deveriam ler. Só me deu mais vontade de ler o livro do Hatoum. As ilustrações, a meu ver, estão fantásticas. Isso que tu falou é uma verdade … pra quem é de outra região que não a norte desconhece a história local. Sabia do crescimento de Manaus na virada do XIX pro XX, mas desconhecia completamente que a região recebeu uma leva de imigrantes libaneses. Com certeza, tu não irá se arrepender de comprar esta obra. Grande abraço.
Alan Nardi
Estou com esse livro (HQ?) em mãos para ler também, que bom que parece ser mesmo interessante.
Depois de ler Daytripper, tudo que esses irmãos produzem me interessam
Olá Marcio, os gêmeos são fodas mesmo. No entanto, ainda preciso ler Daytripper rsrsrs. Como disse na resenha, achei a obra muito bem feita e o trabalho de arte espetacular. Achei interessante também, e aí entra o livro do Milton Hatoum, discutir alguns momentos da história do país a partir de Manaus, pois sempre vemos estes episódios a partir do sudeste e nordeste. Obrigado pela visita e grande abraço.
Alan Nardi
Jovem Alan.
O que você está fazendo agora? A não ser que esteja salvando alguém da morte, pare. Para imediatamente qualquer coisa que esteja fazendo e vá ler Daytripper.
Daytripper é uma obra obrigatória. Fala sobre a vida como poucas pessoas conseguiram.
Marcio,
já tá na lista. Logo logo pagarei esta dívida!!! Daí depois comento contigo. Abraço.
Alan Nardi.
Olá! Primeiramente quero dizer que estou apaixonado pelo blog e pelo conteúdo das postagens que encontrei por aqui. Virei fã e voltarei mais vezes. Parabéns!
Eu adorei essa resenha, muito bem escrita e muito convidativa também. Vi esse livro nas prateleiras de algumas livrarias que fui e folheei algumas páginas, encontrei uma ilustração maravilhosa e pelo que li parece que realmente dá mais “verdade” a história e ambiente. Enredo ótimo, temática diferente. Amei e quero ler.
Bjão,
Diego França, Blog vida & letras
http://blogvidaeletras.blogspot.com – [Resenha] “A mais pura verdade”, Dan Gemeinhart
Olá Diego. Legal que tenha gostado da resenha. É isso mesmo que tu falou … as ilustrações dão mais verdade a história. Me pego relembrando algumas páginas e as imagens são muito fortes e expressivas. Outro aspecto legal foi a ideia de acompanhar a saga familiar, já que em livros temos exemplos clássicos como Cem anos de solidão e A casa dos espíritos, mas em quadrinhos isto não é tão comum. Enfim, quanto mais rememoro a obra, mais percebo o quanto ela é ótima. Obrigado pelos comentários e um grande abraço.
Alan Nardi