Conexión… ¡Te quiero Argentina!

Determinar porque se está no lugar onde se encontra e fazendo as coisas que faz só deve ser fácil para aquele que sempre soube o que queria ser, se é que este ser humano existe.

(Manuel Diaz1)

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A finitude e imperfeição do ser humano se configuram na força motriz que o faz estar em constante situação de inquietação, buscas, descobertas… A priori, esse impulso/desejo visa tão somente satisfazer os anelos do nosso ego. Saciar os instintos primários. Enfrentar os medos. Transpor limites e barreiras… Desafiar o desafio… Transgredir!

É querer ir para aonde não nos é permitido ou simplesmente fazer o que é proibido – tal qual, quando por volta de pouco mais de um ano de idade, somos tentados a colocar o dedo nas tomadas.

Assim, viajar, ou correr mundo a fora – como se costuma dizer no popular –, torna-se um dos primeiros anseios de muitas pessoas. A busca pela sensação de liberdade. O gozo por desbravar o até então desconhecido. A adrenalina de ir além dos limites, sejam eles físico ou psíquico-emocional. Não importa a distância. O valor real está no que o ato em si simboliza.

Sonhador por natureza, sempre desejei transpor os limites geofísicos das minhas redomas. Às vezes como roteiro de fuga, física e/ou emocional; outras, tão somente pelo prazer das possibilidades, devaneios e aventuras. E como bom sonhador, desbravei mares e oceanos, realizei safáris e desfrutei de cada uma das maravilhas espalhadas no velho continente. E, de andarilho a executivo, vivi de quase tudo um pouco. Tudo o que a imaginação pudesse alcançar… Mas as Américas, apesar de tão próximas, ainda permaneciam sombreadas [e bloqueadas] no meu mapa de escoteiro desbravador.

A verdade é que, devido os encantos e seduções das deusas da Europa e África, as Américas ainda não tinham se despido diante de mim – ou até então eu não as tinha percebido desnuda… com suas belezas e encantos à mostra… prontas para serem desbravadas… experimentadas… devoradas…

A Argentina abriu os portais para que, enfim, eu penetrasse América adentro. E, sem a menor sombra de dúvida, foi uma experiência de gozo libidinal.  E cada uma dessas experiências, em minhas idas e vindas, teve um caráter especifico. Agregou algo em particular. Possibilitou-me novas [re]descobertas – acerca de mim mesmo e das visões e leituras de mundos de que disponha. Fez-me criança, moleque… homem maduro.

PhotoGrid_1434982557620Da mesma forma que conto os dias para a chegada das férias no verão brasileiro, para poder desfrutar das maravilhas do meu lindo nordeste, anseio, também, pelo inicio do inverno para me deleitar com o friozinho porteño e todas as delícias que Buenos Aires tem a oferecer… Do rústico e simples Boliche Del Roberto – um dos bares mais antigos de Bs. As. que ainda preserva as suas características originais [uma verdadeira viagem ao tempo] e que segundo alguns, era um dos locais favorito do grande Carlos Gardel – que te envolve na bohemia das noites porteña com o aconchego de um bom tango voz & violão, ao luxo, glamour e sofisticação de seus cassinos.

Buenos Aires oferta em sua vitrine cultural um leque de possibilidades das quais, de pecado em pecado – eu escolhi somente aqueles que promovem/provocam prazeres e gozos (risos) –, se pode gozar de todas as delícias possíveis da vida porteña (principalmente as noites).

Mas nem só “de boliche en boliche” a vida é feita. Afinal de contas, os ventos que me levaram à Argentina foram soprados pela academia.  Assim, o fato de estar cursando uma especialização stricto sensu em ciências da educação em um país de riquíssima cultura e que tem na educação um de seus pilares fundantes tem sido uma experiência imensurável, tanto para o campo profissional quanto pessoal.

Dos inúmeros pontos que poderia citar no intuito de tentar externar tal experiência, diz respeito ao caráter subversivo da academia argentina, no campo teórico, ao deslocar para planos secundários autores e teóricos das linhagens e correntes eurocêntricas e/ou estadunidense para por em destaque os teóricos latinos americanos e as suas contribuições às ciências.

Esse cambio no foco possibilitou-me uma ampliação no campo de visão, uma vez que a academia brasileira ainda se encontra – na sua grande maioria, incluindo as que iniciei a formação acadêmica – subjugada aos domínios das supracitadas correntes. O que é um fato lamentável e que só reafirma o lugar de dominado que o Brasil, desde os primórdios de sua história, ocupa e parece não ter o menor desejo de libertar-se.

Só a título de simples exemplificação, enquanto que aqui no Brasil Paulo Freire é citado muito mais como um simples autor de frases prontas (vazias de significado e significância e fora de um contexto pertinente) em páginas de epígrafe, paredes e muros, faixas e cartazes, camisas, etc., na Argentina, ele é respeitado como um dos grandes teóricos da educação no século passado. Em suma, enquanto no Brasil se vomitam suas palavras ao vento sem que estas nada gerem ou produzam, na Argentina estas mesmas palavras são ruminadas muitas e muitas vezes até que os frutos dessa ruminação se tornem visíveis a olho nu – por exemplo, o nível de politização e consciência crítica de seus cidadãos, desde muito cedo.

Já no primeiro retorno ao Brasil, passei a vê-lo com outros olhos. Tanto os aspectos negativos quanto os positivos [que em todo e em qualquer país você encontrará]. E, por isso, passei a acreditar que a experiência de passar algum tempo em outro país deveria ser vivida por todos [sem exceção às regras, raças, credos e condições socioeconômicas] cidadãos brasileiros. Acredito que isso nos faria, no mínimo, um pouco melhor do que somos. Poderia ajustar o nosso senso e elevar o nosso nível de consciência crítica e de politização. Poderia equalizar o nosso senso de justiça. Poderia trazer luz à escuridão que envolve a nossa autoestima ou os egos inflamados. Poderia, poderia, poderia…

Nessa linha de pensar, digo a você amigo(a) leitor(a) que se puder viver a experiencia de uma temporada fora do Brasil, VÁ! E se quiser escolher a Argentina.. VÁ! Embora tenho preferência pelo inverno porteño, a primavera/verão em terras portenã tem muitas ótimas opções. Na verdade, pra bohemia deste lugar não há estação que não seja propícia. 😉

Mas para não pensarem mal a meu respeito, indico também os deliciosos passeios nas praças e jardins – nas estações quentes estão sempre bem movimentadas, mas nos finais de tardes é que se transformam em verdadeiros espetáculos; ótimo para namorar, paquerar, se exercitar ou simplesmente jogar coPhotoGrid_1434982289124nversa fora com os amigos ou com quem estiver à disposição.

Aos leitores(as) e amantes de café, as opções são das mais variadas; mas não deixem [será considerado um crime cultural a não observância dessa indicação] de ir à livraria El Atenel da Av. Stª Fé – um imponente teatro tradicional que fora transformado em livraria, sem perder a exuberância de sua arquitetura.

Ah! E aos bohemios de plantão… não deixem de ir ao “Paseo Del Sol”, em Alto Palermo. Um espaço de ótimos boliches 😉

E a vida tem seguido assim…

Entre 8 e 80… entre as terras tupiniquis e de los hermanos.


[1] Manuel Díaz é um estimado amigo colombiano que conheci em Buenos Aires.  Atualmente estuda Artes Visuais com orientação em Direção, na Univerdad Nacional de Artes (UNA), Buenos Aires – Argentina.

Música: Carlos Gardel – Mi Buenos Aires Querido

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