Eu sempre cultivei o hábito da escrita reflexiva ou do velho e querido diário. Mas confesso que esse hábito às vezes não era seguido tão a sério. Já passei dias, semanas, meses, sem escrever sobre os meus dias. Assim como já usei ferramentas físicas e digitais para praticar essa escrita que eu costumo chamar de reflexiva. Já tentei escrever durante a noite e pela manhã. Eu observei que sempre quando deixava para escrever de noite, acabava adiando a tarefa por cansaço, preguiça ou distração motivada por série, leituras, novelas, papos no Whatsapp. O que sempre me deixava com uma certa culpa, mas logo tratava de ligar o botão “vida que segue”.
Acontece que eu sei a importância da escrita para mim. Escrever é externalizar os pensamentos loucos e insistentes. É uma prática que me ajuda a ter clareza e foco, a aliviar a ansiedade, reconhecer padrões.
Em julho, mês do meu aniversário, eu estava disposta a tentar organizar as coisas por aqui – externa e internamente. Então resolvi que voltaria a escrever diariamente e todas as manhãs, justamente para não cair na armadilha de deixar para noite e “esquecer” de escrever.
Dessa vez, para me ajudar no processo, eu resolvi que faria a escrita no formato digital, através da Evernote. Por que no digital? Eu estou em processo de escrita da dissertação. E passei por um bloqueio. Simplesmente eu não conseguia sentar em frente ao computador e começar a escrever o que eu tinha escrever. Então fui buscar algumas estratégias, além da terapia, para acabar com esse bloqueio. Nas minhas pesquisas sobre escrita criativa e acadêmica, encontrei o blog da professora Karina Kuschnir com muitas dicas úteis para a vida acadêmica.
Uma das dicas era a escrita diária. Basicamente abrir um arquivo toda manhã e escrever sobre o dia, os sentimentos, etc. A professora tem todo um ritual que vale a pena passar no blog para conferir, mas o que me marcou e que foi um estalo para mim foi o ato de assumir o compromisso de escrever toda manhã no computador ao invés do papel porque assim já se tornaria algo comum no resto do dia. Como a professora Karina disse existe um ato mecânico, a gente acostuma a mente e o corpo ao ato de sentar e escrever todos os dias.
Eu ainda amo o barulho da caneta quando desliza pelo papel, mas para este momento, além de toda magia e nostalgia, eu precisava da praticidade do computador porque, sem dúvidas, existe uma otimização de tempo e energia quando a gente se propõe a fazer rascunhos no Word do que no papel para depois passar a limpo. Hoje, pensando em escrita acadêmica, o que eu faço é roteiro de escrita no papel e desenvolvo qualquer rascunho e texto no computador.
Então toda manhã estava lá escrevendo/ digitando na Evernote sobre o meu dia, os meus sonhos (percebi que sonho demais), ali também já começava a planejar o dia, a entender como estava a minha energia. É uma escrita muito de fluxo de consciência. Vou escrevendo conforme os pensamentos vão surgindo.
Esse processo do journaling digital toda manhã me fez perceber que tinha muita coisa na cabeça que estava relacionada com a minha dissertação (e o projeto de conteúdo também). Então de certa maneira eu ficava empolgada para finalizar essa sessão de journaling e partir para a escrita acadêmica.
Comecei a perceber também que estava vencendo aos poucos o bloqueio da escrita. E levei a técnica do journaling para a sessão de estudos. Programei uma sessão de Pomodoro de 60 minutos e coloquei os dedinhos para trabalhar no teclado, sem me preocupar com formatação, citação, ABNT. Só coloquei para fora tudo o que gostaria de abordar no capítulo em questão. Consegui conter a empolgação, fiz meu intervalo, e voltei para mais uma sessão. Li o que já estava no arquivo do Word, fui adicionando mais algumas informações, lembrando de autores, livros, referências importantes. O mais interessante foi observar que eu precisava urgente ir a campo ouvir minhas participantes da pesquisa. Naquele dia eu já tinha determinado um próximo passo para o andamento do meu projeto, que estava capengando há um tempo considerável.
Quando a gente entra para uma pós-graduação, a depender do programa e corpo docente, há uma cobrança enorme para que os estudantes sigam o rigor da escrita acadêmica e que respeite todas as normas da ABNT. E eu acredito que isso tudo vai engessando a escrita e criando os bloqueios. Aos poucos estou me desprendendo dessas exigências externas, criando a minha forma de escrever dentro da academia, sem deixar de seguir todas as normas. Porque eu sei que é preciso seguir as regras, mas essa pode ser a penúltima etapa da minha escrita. Primeiro eu posso simplesmente escrever e ir trabalhando/melhorando esse texto. Eu posso tentar fazer desse processo de escrita, um momento de criação, de êxtase, e não apenas um momento para cumprir uma etapa acadêmica.
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Eu amei esse post, já vou dar a dica pro meu boy que está parado no TCC há anos.
Acho que vou por em prática também, pois daqui uns anos serei eu a fazer o famoso TCC ´pra faculdade e confesso que já estou com medo
bjsssss
Carol Justo | Justo Eu
Carol, fico feliz por ajudar de alguma maneira!
beijos e sucesso para vcs!