Cicatrizes – David Small

Sabe quando você termina um livro e sente a necessidade de compartilhar a história com todo mundo? Então, isso aconteceu comigo quando acabei de ler a HQ Cicatrizes, do escritor e ilustrador norte-americano David Small, lançado aqui no Brasil pela Editora Leya, em 2010. Tinha pensando em “resenhar” outro quadrinho, mas nas primeiras páginas de leitura de Cicatrizes já sabia que iria escrever sobre ele. Trata-se de um quadrinho autobiográfico, no qual o autor retrata alguns momentos da sua infância e adolescência. A premissa parece simples e conhecemos outros quadrinhos autobiográficos, excelentes por sinal, mas a obra de David Small mexeu comigo. Me incomodou e deprimiu na medida certa. E ao chegar ao fim da história tive a certeza de que tinha lido uma p&%$# obra, que com toda certeza entrou para a minha lista de favoritos.

David Small começa a contar sua história a partir dos seis anos de idade. E de cara, ele faz questão de ressaltar que vive em uma família com muitos problemas de relacionamento. Percebemos que o casamento de seus pais está desgastado e que o relacionamento com os filhos está longe de ser o ideal. A mãe, sempre muito nervosa, vive batendo a porta dos armários, o pai desconta os problemas no saco de boxe, enquanto o irmão mais velho extravasa na bateria. A maneira que ele encontrou de chamar a atenção dos pais era ficando doente. Vivia tomando remédios, realizando procedimentos clínicos e se submetendo a sessões de raios-x ministradas pelo pai, que era radiologista, para tratar uma sinusite crônica.

Sua mãe não tinha paciência nem carinho para com o filho e tal relação é destacada ao longo de toda a história. Sempre que possível, referia-se à quantidade de dinheiro que gastava no tratamento de suas “doenças”.

Desde pequeno demonstrava grande imaginação e gosto pelos desenhos. Desenhar passava a ser uma fuga da realidade. Em diversos momentos o vemos “adentrar” nos desenhos que fazia e “encontrar” um mundo paralelo, assim como a Alice de Lewis Carroll, seu personagem favorito entre todas as histórias. Para se ter uma ideia, saia pela rua com uma toalha na cabeça fingindo ser a própria Alice. A analogia que o autor faz com Alice é perfeita e até difícil escrever sobre ela. Só lendo mesmo.

Os avós, na maioria das vezes, são acusados de estragar os netos, o que no caso de David seria uma salvação, mas infelizmente ele também enfrentaria problemas, especialmente com sua avó materna. Em uma viagem de férias, ele e sua mãe foram até a casa dos avós maternos enquanto o pai e o irmão visitaram os avós paternos. Sua avó era autoritária e, assim como a mãe, não fazia questão de demonstrar carinho por David. Os castigos e a as ofensas da avó fizeram com que ele nunca mais voltasse a sua casa.

Pulamos alguns anos de sua vida e o vemos no início da adolescência. Sua mãe continuava a trata-lo mal e mantinha sua obsessão por dinheiro. Em uma festa oferecida por ela aos amigos da família uma convidada percebe um caroço estranho no seu pescoço e recomenda que o levem ao médico. Mais gasto, menos dinheiro. Na consulta ele é diagnosticado com um cisto sebáceo que deve ser retirado. Seus pais, mesmo com uma boa condição financeira, adiam sempre que possível a cirurgia, e somente aos 14 anos ele vai retirar o cisto que tanto o incomodava. Era um câncer …

E a partir deste momento a história torna-se ainda mais dramática, mas não no sentido de exploração da doença para nos fazer chorar e ter pena, e sim do desenvolvimento psicológico de David. Diversas situações de conflito são retratadas de maneira brilhante e a arte tem um papel fundamental nisso tudo. Em preto e branco, os desenhos, muitas vezes sem qualquer balão com texto, fazem com que nos coloquemos no lugar de David e adentremos na história. Suas lembranças são brilhantemente retratadas. Já disse que é espetacular? Tá bom vai … é espetacular. Se tiver oportunidade leia e comente para trocarmos uma ideia. E a conversa vai render!!!

 

Abraços e até a próxima. 😀

 

carrinho-de-comprasLivraria da Folha

Espalhe por aí:

Deixe um comentário: