Charlotte – a história da pintora morta em Auschwitz

Você já sentiu saudade de um livro? Da atmosfera de um romance?

Você já sentiu saudade de uma personagem?

Às vezes o livro é tão bom que não queremos desgrudar, mas por motivos de força maior somos obrigados a não devorá-lo em uma sentada. E o que nos resta é a saudade. E a espera do momento de reencontro. Parece até história de casal apaixonado, mas é a minha história com Charlotte, de David Foenkinos.

E é interessante sentir saudade desse livro porque tenho a impressão de que ele é só saudade. Saudade que o escritor sente de uma artista que nunca conheceu. E a saudade que Charlotte tinha da vida que tiraram dela.

Nunca tinha ouvido falar de Charlotte Salomon. Perdoe-me a ignorância.

Mas, infelizmente, já ouvir falar e muito em Auschwitz, campo de concentração e extermínio de judeus na época da Segunda Guerra Mundial. E foi lá que Charlotte morreu grávida aos 26 anos.

David Foenkinos escreveu mais que uma biografia da pintora nascida em 16 de abril de 1917, em Berlim. O escritor transformou em prosa poética a vida trágica da menina judia, filha única de Albert e Franziska Salomon, que já nasceu marcada pela morte e tristeza. Charlotte ganhou o nome de sua tia materna que se suicidou no final da adolescência. Mas na verdade sua família toda era marcada pelo suicídio.

Charlotte Salomon e seu pai Albert, 1927
Charlotte Salomon e seus avós em L’Ermitage, Villefranche-sur-Mer, França, 1939

Charlotte crescia na época em que a perseguição aos judeus alemães aumentava por todas as partes. Esse fato atingiu Lotte e sua família. E a menina quase perdeu a chance de entrar na Academia de Belas Artes de Berlim, mas conseguiu no ano de 1936.

Lotte também foi separada dos seus familiares e amigos e precisou sair da sua terra natal. A menina encontrava refúgio através das artes – música, pintura, literatura –  e sua grande obra-prima “Vida? Ou Teatro?” é um relato autobiográfico corajoso de tudo que viveu nos seus 26 anos.

O livro do David Foenkinos, que chegou ao Brasil através da Bertrand Brasil, mistura a biografia da pintora mais os passos que o autor precisou dar para tentar conhecer Charlotte Salomon e sua obra. No final a gente fica um pouco triste por lembrar o quanto a intolerância e o preconceito podem nos tirar a beleza da arte e da vida. Mas também serve como reforço da importância de valorizar o bem e respeitar as escolhas dos outros.

 

Como uma boneca, Charlotte ficava ereta no meio da sala.

Recebia os convidados com seu mais belo sorriso.

Aquele que havia aperfeiçoado com a mãe, a ponto de cansar o maxilar.

Qual era a lógica?

A mãe se fechava durante semanas.

Depois, subitamente, era tomada pelo demônio social.

Charlotte se divertia com essas mudanças.

Preferia qualquer coisa à apatia.

A superabundância ao vazio.

Vazio esse que agora voltava.

Tão rapidamente quanto havia ido embora.

E, novamente, Franziska se deitava, esgotada por nada.

Perdida na contemplação de um lugar no fundo do quarto.

Diante das incoerências maternas, Charlotte era dócil.

Domava sua melancolia.

É assim que nos tornamos artistas?

Acostumando-nos à loucura dos outros?

(pags 20 e 21)

“Ela devia viver para criar.

Pintar para não enlouquecer.”

(pag 184)

 

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12 comentários em “Charlotte – a história da pintora morta em Auschwitz

  1. Não conhecia a história da Charlotte Jen! Deve ser um livro incrível, já quero ler tbm!
    Amei a dica, e fico muito tocada com livros ue envolvem o holocausto, são leituras muito necessárias para que todos aprendam a onde que extremismos e preconceito pode levar.

    • Sim! Creio que você vai gostar, Thami.
      Eu também fico muito tocada com o tema.
      🙁
      bjão

    • O livro é maravilhoso, apesar da história triste.
      bjão

    • Esse livro é um encanto, apesar da história triste.
      Acho que vai gostar.
      bjão

  2. A intolerância priva o mundo de tanta coisa maravilhosa, né? Eu também não conhecia essa hitória, mas não surpreende que ela tenha sido calada nessa guerra…

  3. No conocía a la pintora, qué interesante la visibilización de las mujeres que han marcado al mundo desde diferentes ámbitos. Más si del exterminio de los judíos de trata.

    • Ela é pouco conhecida mesmo, mas sua história (e de várias outras mulheres daquela época) precisa ser contada.
      bjão

  4. esse deve com certeza ser aquele tipo de livro que é tão incrível, que depois qualquer outra coisa pode ser “ruim” ou sem graça devido a intensidade da história anterior! fiquei muito curiosa e essa capa, que lindeza! :***