Olá, amigos. O amor está no ar aqui no Subindo no Telhado e nada melhor do que apresentar um pouquinho da bela história de amor entre as jovens Clémentine e Emma, nesta excelente HQ que é Azul é a cor mais quente (Martins Fontes, 2013), da francesa Julie Maroh. Tomei conhecimento da obra em 2013 após a adaptação para o cinema, Blue is the warmest color, ganhar o Palma de Ouro, no Festival de Cannes, e optei por ler o quadrinho primeiro. E que leitura fantástica realizei em janeiro deste ano. Após uma releitura para escrever esta resenha percebo que todos os elogios à história são merecidíssimos. A obra é excelente, desde o roteiro até a arte, e é uma das melhores hqs que li este ano. Não leu ainda? Bora tentar te convencer então … rs!
A trama é centrada no relacionamento das jovens Clémentine e Emma, mas a maneira que a história nos é contada é o mais interessante. A primeira página nos convence de cara e é formada por quatro imagens nas quais vemos Emma sozinha em um ônibus e as seguintes frases abaixo das cenas: “Meu amor, quando você estiver lendo estas palavras eu já terei abandonado este mundo”. Dito assim, soa piegas, mas no contexto e com as imagens é perfeito. A seguir percebemos que estas frases fazem parte de um diário deixado por Clémentine e que este diário nos permitirá conhecer a história a partir de sua perspectiva.
Clémentine é uma jovem de 16 anos que como qualquer adolescente vive um momento de dúvidas, incertezas e descobertas. E são estas descobertas, principalmente no que diz respeito à sua sexualidade, que são “exploradas” no decorrer da história. Clémentine parece um tanto deslocada e incomodada quando as amigas comentam sobre os meninos. Esta “pressão” faz com que ela tente se envolver com Thomas, um garoto que cursa o terceiro colegial da escola em que estuda, mas a experiência torna-se frustrante, fazendo com que ela se sinta ainda mais confusa e angustiada.
A mudança ocorre em sua vida quando ela cruza na rua com uma jovem de cabelos azuis que mais tarde vem a saber que se trata de Emma, despertando nela, uma gama de sensações conflituosas. E a história se desenrola a partir daí.
As nuances de um relacionamento são muito bem retratadas nas expressões das personagens. As decepções, a paixão, o encantamento, o ciúme, a traição, o sexo e o amor estão presentes. Mais do que trazer à tona o sentimento entre as duas, a obra nos instiga a questionar diversas afirmações preconceituosas acerca da homossexualidade. Vemos por exemplo, o quanto a escola, um ambiente teoricamente inclusivo, excluí com uma crueldade despropositada.
Contemplamos ainda, o quão conflituoso é para um adolescente do século XXI, conviver no ambiente familiar com um pai que enxerga o homossexual como uma aberração e com pessoas que julgam o tempo todo. As cenas que mostram Clémentine se imaginando queimada numa fogueira como na Idade Média ilustram bem este pensamento.
Uma cena que me marcou muito passou batida na primeira leitura. Nela, vemos Emma muito triste e abatida devido à problemas do relacionamento, enquanto na TV surge o resultado das eleições presidenciais na França, decretando a vitória de Nicolas Sarkozy, que veio a governar o país entre 2007 e 2012. Sarkozy sempre atacou qualquer possibilidade de união entre os homossexuais e em 2012, em um discurso visando a reeleição, afirmou: “Para mim uma família é composta por um pai e uma mãe, não dois pais ou duas mães”. Retrata bem o tipo de conflito vivido por Clémentine e Emma.
Também gostei muito da arte e da colorização, com todas as cenas referentes às memórias em preto e branco. Seguem algumas imagens para vocês julgarem por si mesmos. Enfim, obra recomendadíssima e que merece ser lida.
Até a próxima!
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