O País do Carnaval (Jorge Amado)

Em 1930, ainda com 18 anos, o baiano Jorge Amado (natural de Ilhéus) escreveu seu primeiro livro intitulado O País do Carnaval. Na época, Jorge havia saído da Bahia para cursar Direito no Rio de Janeiro. Mesmo tão novo, Amado escreveu uma obra inteligente, crítica e que retratou as inquietações de vários jovens dos anos 30.

Em O País do Carnaval, o baiano Paulo Rigger volta ao Brasil após sete anos estudando Direito em Paris. Durante o seu tempo de estudos, Paulo tornou-se boêmio, blasé e aprendeu a apreciar as coisas boas. Passeava entre os grande salões e os cabarés. Mas apesar de tudo isso, ele era insatisfeito. Vivia em busca de algo porém não sabia o que era. Antes de voltar para Bahia, Rigger passa um tempo no Rio de Janeiro justamente na época do Carnaval.

Logo na chegada no Rio de Janeiro, Rigger encontra uma realidade totalmente diferente de Paris mas que ainda não reconhecia como Brasil. No Rio, a crise de identidade aflorou. Paulo não se reconhecia brasileiro, mas também não se considerava um europeu. E buscava entender o Brasil e a si mesmo, em meio ao Carnaval, a chamada festa democrática, em que todos se misturam, cantam, dançam e são felizes, e esquecem a situação crítica do país e seus cidadãos.

Sentia, entretanto,  que a capital da República não era Brasil. Tinha muito das grandes cidades do universo. E essas cidades não são cidades de países, são cidades do mundo. Paris, Londres, Nova York, Tóquio e Rio de Janeiro pertencem a todos os países e a todas as raças. (pag 23)

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Na Bahia, Rigger passa a frequentar um grupo de intelectuais que estavam na mesma situação que ele – todos buscavam o sentido da existência e a felicidade plena na vida. Esse grupo era formado por: Pedro Ticiano, o mais velho e cético de todos e que não acredita no amor; Ricardo Braz, funcionário público e que “tinha uma grande sede de amor”; A. Gomes, jornalista, diretor de revista e ambicioso; Jerônimo Soares, ingênuo e sem grandes pretensões na vida; José Lopes, o mais estranho de todos. Sentia que não realizaria coisa alguma na vida. Todos eles eram céticos demais, o que deixou a busca pela felicidade torturante e os tornou infelizes.

Aquela amizade chegara a ser uma grande consolação para suas vidas. Sentiam-se amparados uns pelos outros. Ajudavam-se e juntos procuravam a finalidade das suas existências. Depois de ter aprendido, com Pedro Ticiano, todas as atitudes céticas, eles começaram um combate à dúvida. Queriam alcançar o fim. Sim, diziam, havia um fim na vida. (pag 35)

Através das ações e diálogos dos personagens podemos refletir sobre política, ética, nacionalismo, niilismo, religião, filosofia, machismo e convenções sociais. O livro O País do Carnaval é considerado pelo jornalista e escritor José Castello, no posfácio disponível na edição da Companhia das Letras (2011), como um romance de deformação, “no qual Jorge se desvia da educação que recebeu da família e das expectativas paternas para se afirmar como sujeito”. No livro, Paulo Rigger está em busca do seu lugar na vida. Ao mesmo tempo em que se considerava uma pessoa moderna, continuava preso por convenções sociais e políticas da época, e aos preconceitos morais. E esse conflito também era vivido por seus amigos. Sendo que cada um tentava traçar o seu caminho em busca do sentido da existência.

Eu tinha uma ideia totalmente diferente desse livro. Nunca passou pela minha cabeça que ia encontrar um romance de deformação. Pensei que Jorge fosse comentar realmente sobre o carnaval. Mas o Carnaval aqui é apenas um elemento crítico e irônico utilizado pelo autor.

Eu quisera intitular este romance de “Os homens que eram infelizes sem saber por quê”, mas a gente tem vergonha de certas confissões. E fica-se vivendo a tragédia de fazer ironias.

Os defeitos deste livro são a minha maior honra. (Jorge Amado, 1930)

O País do Carnaval é um romance sobre os jovens de 1930 que ainda dialoga com os dias atuais. Mudam-se os cenários, os personagens, e a busca por um lugar no mundo segue como desejo de vários outros jovens. E vale lembrar, como disse o próprio Jorge Amado, “o fracasso das tentativas não é prova da sua inutilidade”. (pag 13).

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  • Algumas cópias do livro foram queimadas em 1937, na Praça Cairu (Salvador/BA), pela ditadura Vargas. Várias livros foram queimados por serem  julgados como simpatizantes do credo comunista. Leia mais aqui;
  • As fotos são da edição da Companhia das Letras e a foto que está na capa do livro é de autoria de Pierre Verger;
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8 comentários em “O País do Carnaval (Jorge Amado)

  1. Mulher, você arrasa! O post ficou impecável, adorei. Tô amando participar desse projeto e ansiosa pra próxima leitura, que tá chegando! O livro me surpreendeu também, pensava o mesmo que você e curti demais.

    Beijão!

    • Obrigada, Bela! Você arrasa também. Acho que esse projeto vai nos surpreender mais e estou ansiosa tb.
      beijooos!

  2. Nunca tinha lido nada sobre esse livro e achei bem interessante (adoro romances de formação!).
    Já aguardo os próximos posts do projeto 🙂
    bjo

    • Michelle, eu também não conhecia nada do livro. Foi uma surpresa maravilhosa.
      Beijos!

  3. Pingback: Os nossos encontros e desencontros - Jeniffer Geraldine | Blog sobre as coisas boas da vida

  4. Que interessante esse #amandojorge.
    Sabe que após ler Um certo capitão Rodrigo e O Cortiço, me dei conta de que preciso ler mais nacionais e resolvi, por conta, ler ao menos um por mês!

    • Olá, Ana!
      Eu também tenho essa meta pessoal de ler um brasileiro por mês. Acho bacana e tenho encontrado muitos autores bons contemporâneos. Participe do #AmandoJorge um mês. Vai ser massa ter sua participação.
      Beijos! 😉

  5. Pingback: Projeto literário #AmandoJorge 2018 - Jeniffer Geraldine | Blog