Quando o tempo bate na sua porta. Não tem escapatória. Basta olhar-se no espelho, tentar lembrar-se de um acontecimento do passado, dançar mais de duas horas seguidas. Que lá estarão as marcas dessa visita.
Ele chega e detalhe, ele avisa. Os segundos, minutos, os dias, meses, anos vão passando. E vamos percebendo. E somente nós podemos fazer com que essa visita não seja muito cruel.
Em A visita cruel do tempo, livro vencedor do Prêmio Pulitzer em 2011, Jennifer Egan trata da passagem do tempo em nossas vidas sobre a perspectiva de quatro personagens: Bennie, produtor musical; Jules Jones, jornalista e cunhado de Bennie; Stephanie, esposa de Bennie; e Sasha, assistente cleptomaníaca de Bennie.
A partir da vida desses personagens vemos como sonhos e desejos começam, acabam e se renovam com o passar do tempo. E isso tudo baseado nas escolhas que fazemos e com a ajuda das pessoas que convivemos.
No livro encontramos uma mistura do tempo presente, futuro e passado. Não há uma ordem cronológica. Assim como existe uma mistura de narradores e cenários. Além de encontrarmos um capítulo especial feito em formato de slides. Jennifer Egan faz com que toda essa desordem ao final torne-se uma perfeita narrativa, um livro muito bem escrito. E é isso! A história dos personagens não me emocionou. Mas a ideia do livro e a forma deste são encantadores. A forma de escrever da Egan é excelente, mas não os personagens que ela criou.
Quando vi as primeiras notícias sobre o livro, o que me chamou muito atenção foi o título: A visita cruel do tempo. Forte e com impacto. Tinha acabado de ler a Obscena Senhora D, da Hilda Hilst, e o título foi meio que uma resposta para tudo que tinha lido no livro da Hilda (depois conto mais sobre). Comecei a ler buscando emoção, mas só encontrei a perfeição da narrativa da Egan. E que por isso, valeu a leitura!
E a visita é cruel mesmo? Sim. Mas ao final, a crueldade vai ser de acordo com as nossas escolhas e de quem a gente permitiu que passasse por nossos caminhos.