A hipótese humana – livro policial histórico brasileiro

Alberto Mussa é um escritor carioca e mestre em linguística com a dissertação O papel das línguas africanas na história do português do Brasil. Seu grande destaque literário é o Compêndio Mítico do Rio de Janeiro, série de cincos novelas policiais, uma para cada século de história do estado: O trono da rainha Jinga, O senhor do lado esquerdo, A primeira história do mundo, A hipótese humana e A biblioteca elementar (a ser escrita).

Meu primeiro contato com a literatura do Mussa foi através do A hipótese humana, livro que recebi em parceria com a Editora Record. Me interessei principalmente por ser um escritor brasileiro contemporâneo que eu ainda não conhecia. Me surpreendi muito com a proposta do livro, do Compêndio Mítico como um todo, e com a escrita do autor.

Antes de partir para narrativa do livro, Alberto comenta de onde vieram as motivações e inspirações para escrever a história. É interessante saber disso porque passamos a dar mais valor ao que ele construiu através da ficção. Alberto estuda a história da cidade do Rio de Janeiro através dos seus crimes, ao mesmo tempo que valoriza a cultura brasileira com seus regionalismo e misticismo, e faz uma investigação sobre os problemas mitológicos. E a base para sua ficção vem da lenda familiar, aquelas histórias que a gente escuta quando é criança e não sabe se é realidade ou invenção, ou um pouco dos dois. Alberto ouviu, pesquisou, e recriou à sua maneira, sem perder a essência.

Em A hipótese humana, no ano de 1854, a jovem Domitila morre dentro do seu quarto, na chácara do pai no bairro do Catumbi. O corpo é encontrado por seu pai que diz ter visto um sujeito correndo para fora do quarto da moça e sai disparando tiros pelo quintal, além de ordenar que seus criados saiam em busca do tal homem e possível assassino. Mas ninguém encontra o sujeito e Tito Gualberto, primo de Domitila, agente da polícia secreta e capoeirista, é chamado para investigar o caso.

A investigação é cheia de hipóteses, suspeitos e motivações. Além de passar pelas senzalas, ruas do Rio de Janeiro, e caminhos assombrados. Tudo isso dá o toque regionalista e místico à história. Nós vamos passar por causos místicos e religiosos da época, por histórias de capoeiras, de paixão e adultério.

O narrador é onisciente e segue conversando o tempo inteiro com o leitor. Além disso temos muito o uso do flashback para entender determinadas situações e conhecer o passado das nossas personagens. Os passados de Domitila e Tito Gualberto se entrelaçam por serem primos e apaixonados. Aliás, Domitila tem um papel importante na história. A personagem é casada e sempre gostou de fazer saraus em casa. Mas ela acabava se envolvendo amorosamente com alguns jovens que iam até lá. O pai descobriu e proibiu os saraus e também moça de sair de casa.

A figura de Domitila nos faz pensar em um dos problemas mitológicos da sociedade: a sexualidade feminina, que sempre foi vista como algo que desmoraliza a vida da família e a própria mulher. O pai é aquele coronel, opressor, que controla a filha e sua sexualidade, em nome da moral e imagem da família. Apesar de Domitila cometer adultério, nada justifica o fato dela se tornar prisioneira na própria casa. E vamos ver, ao longo da narrativa, que ela não é a única a cometer um crime contra a moral e os tais bons costumes.

Fiquei bastante envolvida com a investigação, levantei várias hipóteses, acreditei em algumas até o final, e fui surpreendida pelo Alberto Mussa. É um livro que vale a pena ser lido. Não é apenas um enigma a ser desvendado, é uma parte da história do Brasil e suas problematizações vindo à tona a partir de um crime. E isso é o melhor da literatura explorando, analisando e recriando o real.

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