Em abril, fomos surpreendidos com uma decisão do presidente Jair Bolsonaro: a extinção de conselhos sociais. Circulou pelo WhatsApp a lista com mais de 600 órgãos de participação popular que podem ser extintos. Essa decisão antidemocrática me fez lembrar que lutamos por décadas por melhorias e basta uma assinatura para tudo desaparecer. Se for para fazer uma analogia com um fenômeno da cultura pop, posso falar sobre o estalar do dedo de Thanos, o vilão poderoso de Os Vingadores. O governo atual do Brasil está dizimando e apagando a existência de várias pessoas com canetadas.
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Após cem dias da primeira dama Michelle Bolsonaro fazer um discurso em Libras na posse do presidente, está na lista de órgãos extintos o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONADE) criado para acompanhar e avaliar o desenvolvimento de uma política nacional para pessoas com deficiências.
É bonito e inclusivo ver a primeira dama fazer um discurso em Libras. Mas não é bonito ver cada vez mais pessoas conhecendo e se apropriando da linguagem de sinais porque isso as tornam autônomas. Autonomia e liberdade não são para todos em um governo autoritário.
No início do ano, comecei a fazer um curso online sobre mediação de leitura, oferecido pela Fundação Demócrito Rocha em parceria com a Universidade do Ceará. Na programação de conteúdo há um módulo sobre mediação de leitura e acessibilidade. A proposta é mostrar a importância de levar a literatura e a leitura para pessoas com deficiência.
Como gostei dessa perspectiva sobre mediação de leitura, fiquei curiosa para saber quem era o conteudista e fui pesquisar sobre o professor Igor Peixoto Girão.
Igor é o primeiro mestre em Ciência da Informação com deficiências múltiplas no norte e nordeste. Sua dissertação foi sobre “Audio games no processo de aprendizagem de deficientes visuais: uma análise sob a mediação da informação”. Hoje ele também é bibliotecário da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará.
Assim que conheci um pouco sobre Igor, compartilhei com minha Mãe que é professora e tem atualmente alunos com deficiências. Igor é um exemplo para esses jovens e fala de um lugar que por mais sensível que uma pessoa não-deficiente possa ser, ela não compartilha da mesma experiência de mundo.
Outro exemplo de representatividade para pessoas com deficiência que conheci em 2019 foi o Instagram Bora Mesmo. Criado por Mila D’Oliveira, o perfil fala sobre locais em Salvador (BA) com acessibilidade. Mila questiona a naturalização da falta de acessibilidade na maravilhosa Salvador e critica alguns lugares que se apresentam como acessíveis mas ainda precisam de melhorias. Ela está de olho, visita, fiscaliza e conversa com alguns donos que estão dispostos a ouví-la.
Fiquei pensando no quanto eles querem autonomia e liberdade e do quanto nossa sociedade preconceituosa e indiferente ao chamado diferente segue contribuindo para apagar e silenciar determinadas existências.
Comecei a me questionar sobre: espaços sociais e acessibilidade, já que sou mediadora de um clube de leitura; quantos livros com personagens deficientes eu já havia lido; e se conhecia alguma escritora ou escritor com deficiência. São questionamentos que acredito que devemos fazer. Assim como lembrar que acessibilidade não é apenas acesso à informação, mas uma forma para a pessoa com deficiência existir na sociedade.
- Instagram Bora Mesmo?
- Formado primeiro mestre em Ciência da Informação com deficiências múltiplas no N/NE
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