A inspiração para arte vem da vida, da nossa própria vida. Eu sou fã de produções autobiográficas. Quando o autor compartilha com o mundo suas dores, seu passado, suas percepções assumidas sobre o viver e estar no mundo, acaba expondo toda a sua vulnerabilidade. Perguntas como “o que você quis dizer com o filme?” não precisam de respostas lógicas e fechadas. Histórias de vida não resultam em lógica e razão. Foi o que o autor quis compartilhar e é um recorte da vida. Uma resposta poderia ser: “o que eu quis dizer está aí”. E isso também deixa de lado aquela máxima de separar o autor da obra. Eu nunca gostei dela. Sempre acreditei que há muito do autor na obra. Mas também acho que há sempre um recorte temporal. Há na obra tudo aquilo que ele viveu, pensou, sentiu, em um determinado momento. E amanhã tudo pode mudar.
Na lista dos indicados ao melhor filme do Oscar 2021 está Minari, escrito e dirigido por Lee Isaac Chung, e com elenco formado por Steven Yeun (The Walking Dead), Han Ye-ri, Alan Kim, Noel Kate Cho, Youn Yuh-jung, e Will Patton.
A narrativa é focada em uma família de imigrantes coreanos formada pelo pai Jacob (Steven Yeun), a mãe Monica (Han Ye-ri) e as crianças Anne (Noel Kate Cho) e David (Alan Kim). A família está em busca de viver o sonho americano e vão começar uma nova vida no interior do Arkansas (EUA).
O filme é um drama que ganha um toque leve de humor com a chegada da Avó materna das crianças, Soonja, interpretada pela maravilhosa Youn Yuh-jung, que também está concorrendo ao Oscar de melhor atriz coadjuvante.
Com a chegada da diferente e carismática Avó, as crianças, mas principalmente o pequeno David, questionam o comportamento nada convencional de Soonja. David chega a dizer que ela não era uma avó de verdade, já que não cozinha, fala palavrões e veste roupas que não são de Avós. É muito interessante observar esse confronto de idealização e realidade. Até porque as crianças não haviam tido contato com outros parentes coreanos e algumas vezes justificam o comportamento da avó ao fato dela ser coreana.
Outro relacionamento importante para a narrativa é o do casal Jacob e Monica. Os dois trabalham com sexagem de pintos. Jacob é um homem sonhador. Monica é mais centrada e preocupada com o futuro dos filhos. Há uma vontade em Jacob de vencer na vida, de realizar o seu sonho de viver do cultivo na fazenda, e assim conseguir sustentar a família. Muitas vezes podemos ver uma certa teimosia e acredito que o peso do machismo em Jacob em ser o provedor da família e se colocar como um vencedor diante dos filhos.
No passado, ainda na terra natal, Jacob e Monica pareciam felizes. E o fato de estarem em busca de uma vida melhor, em um país novo com fortes diferenças culturais, estava contribuindo para que eles perdessem o melhor de cada um e o melhor do relacionamento. O afeto estava, aos poucos, sendo deixado de lado devido às constantes brigas por conta de dinheiro.
Ainda em Minari há uma personagem que marca presença, a terra escolhida para o cultivo de vegetais coreanos e até mesmo o cultivo do futuro da família. Era imensa, bonita de ver. Mas Jacob ainda não sabia se a terra era fértil, se iria vingar e, principalmente, se conseguiria fechar negócios com os comerciantes das redondezas. Era tudo incerto. E ele estava disposto a ir até o fim. Em determinado momento, Jacob diz para Monica, “mesmo se eu falhar, preciso terminar o que comecei”.
Enquanto Jacob brigava com a terra, com a ajuda do excêntrico Paul (Will Patton), a Vó Soonja caminhava destemida desbravando a fazenda em busca de um lugar bom para cultivar minari, uma erva muito popular nas cozinhas asiáticas. É neste processo que a relação entre neto e avó se fortalece e também a autoestima do garoto começa a ser desenvolvida.
O diretor Lee Isaac Chung é filho de imigrantes coreanos e nasceu na zona rural de Arkansas. Ele diz em entrevista que escreveu um filme para se conectar com os amigos do Arkansas. Mas é impossível o filme não extrapolar esse desejo. Afinal, em todo canto do mundo há a história de uma família que precisa conviver com diferenças pessoais e idealizações para sobreviver não só ao exterior, mas ao interior da casa. Minari emociona com pequenas cenas de reconexão familiar através do cotidiano.
Minari
Classificação JG: ❤️
Título original: Minari
País: EUA
Gênero: Drama
Classificação: 12 anos
Duração: 115 minutos
Onde assistir: Ainda não está disponível no streaming
Direção: Lee Isaac Chung