Em 2019, a filósofa brasileira Djamila Ribeiro lançou o Pequeno Manual Antirracista, pela editora Companhia das Letras.
Em dez capítulos, o livro apresenta propostas de enfrentamento ao racismo estrutural na sociedade brasileira. É um convite para refletirmos sobre nossas atitudes, a história do Brasil, e descolonizar as subjetividades, a mente, a teoria e o cotidiano.
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Djamila não escreve sozinha, a autora traz nomes como Sueli Carneiro, Grada Kilomba, bell hooks, Silvio Almeida e Joice Berth. E com isso considero o livro como uma referência teórica importante para quem quer iniciar os estudos sobre racismo, feminismos e descolonização.
Na obra, Djamila também faz uma pequena revisão teórica sobre o conceito lugar de fala. Uma revisão de extrema importância porque o conceito foi muito popularizado nos últimos tempos, mas, infelizmente, também foi bastante mal interpretado. E falar de práticas antirracistas é conhecer, questionar e entender o seu lugar de fala na sociedade, o seu lugar social, de onde você fala e quais os privilégios que esse lugar te dá.
Indico a leitura completa do livro mas hoje quero compartilhar 5 propostas do Manual antirracista para refletirmos juntos e plantar a sementinha da descolonização por aqui.
1. INFORME-SE SOBRE O RACISMO
A primeira proposta é a busca por informação. Saber como o racismo foi a base para construção da sociedade em que vivemos hoje. Lembrar de dar nomes às coisas, às opressões. Conhecer a nossa história, o que demanda ir além do que está posto, do que foi e é naturalizado. E também nos pede um olhar crítico e questionador. Lembrei muito de quando eu comecei a ler as feministas negras, como Angela Davis e bell hooks. Sem dúvidas, ler as obras dessas autoras me trouxeram conhecimento e informações que nenhuma aula de história do meu tempo de colégio trouxe.
2. ENXERGUE A NEGRITUDE
Quando li esse capítulo lembrei de Audre Lorde nos falando para reconhecer as diferenças. Somos diferentes sim, nas cores, nas formas, nos cabelos, no pensamento, e precisamos reconhecer as diferenças. Djamila fala desse processo de enxergar a negritude para tirar uma realidade, um grupo de pessoas, da invisibilidade. Frases como “eu não vejo cor” e “eu não vejo gênero” não ajudam em nada. A partir do momento que a gente diz que não enxerga determinada realidade, ela ganha invisibilidade, deixa de ser reconhecida e aceita, e passa a ser oprimida.
3. RECONHEÇA OS PRIVILÉGIOS DA BRANQUITUDE
É nesse capítulo que ela revisa o conceito lugar de fala para nos lembrar que a branquitude também tem o seu lugar social e que é um lugar de privilégios em uma sociedade que foi estruturada com base no racismo. Djamila traz Grada Kilomba para falar que o racismo foi inventado pela branquitude. E isso me faz lembrar da filósofa e feminista descolonial María Lugones que diz que raça e gênero são duas ficções poderosas.
Aqui também Djamila fala sobre não ter culpa por ser branco mas de ter responsabilidade, de questionar o privilégio, e ter atitudes antirracistas.
4. PERCEBA O RACISMO INTERNALIZADO EM VOCÊ
Se perceber racista pode ser bem difícil. bell hooks já comentou sobre a autocrítica feminista. Antes de querer acabar com o machismo na sociedade, mate o monstro em você. Essa também é a proposta de Djamila. A nossa sociedade foi construída com base no racismo e no sexismo, então nós fomos criados assim. A nossa linguagem é racista e opressora. Falamos termos diariamente que denotam algum racismo. E precisamos perceber para nos corrigir.
5. LEIA AUTORES NEGROS
Eu já até comentei o quanto foi e é importante para mim ler autoras como bell hooks e Angela Davis. Na lista incluo Carolina Maria de Jesus, Sueli Carneiro, Lázaro Ramos, Silvio Almeida. E tem muitos outros. Ler autores negros não é apenas essencialismo, mas é lembrar que a maior parte da nossa população é negra e também produz saber. Há o que Sueli Carneiro e Boaventura de Sousa Santos chamam de epistemicídio – a aniquilação, o apagamento, da memória, cultura, saberes e conhecimento de um povo. Djamila nos convida a descolonizar nosso conhecimento e ir além do que já conhecemos e naturalizamos.
Leia o Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro, assim como também Lugar de fala e Quem tem medo do feminismo negro?. São três livros que nos ajudam a desconstruir o naturalizado e descolonizar teorias e práticas.
Conteúdo em vídeo:
Livros na Amazon:
Quem tem medo do feminismo negro?
Vídeo bem constituído e que me proporcionou conhecer outros autores negros. O que me ajudará a embasar minha dissertação de tese do mestrado. Obrigada!
Oie, Rosilene! Fico feliz em contribuir de alguma maneira. Bons estudos! Abs