10 filmes latinos para ver na Netflix

Nós, aqui do Brasil, muitas vezes não nos damos conta da quantidade de coisa boa que nossos vizinhos andam fazendo por aí nas telonas. Por isso mesmo resolvi abrir meu Netflix há alguns meses e tracei a meta de assistir mais filmes latinos, especialmente os argentinos, que dão aula de como fazer filme bom, né?

Como gosto de filmes com temáticas bem dramáticas, daquelas que bate uma depressão quando o filme acaba (sou desses), aconselho de cara a só assisti-los quando estiver disposto a refletir, senão, melhor dar o play num sitcom.

E é bom lembrar que nenhum deles aqui é daqueles clichês, sabe? Nada de “meu sangue latino” ou amor caliente e te quiero pra lá te quiero pra cá. A maioria é densa, o que não quer dizer que sejam complexos, muito pelo contrário, são relativamente simples, alguns chegam a ser tão leves mesmo tratando de temáticas como a morte. Acho que é isso mesmo que os levaram a esse “top 10”.

A lista abaixo não segue exatamente uma ordem de melhor ou pior, mas tentei separar mesmo por países pra ficar mais “didática”. Além do mais, é sempre uma boa oportunidade pra tirar a ferrugem do castellano. ¡Vamonos!

#1 Medianeras [ARG/2011]

Medianeras

Dois jovens solteiros, praticamente vizinhos, moram só numa cidade grande e tem uma vida relativamente “medíocre”. Uma premissa bem comum, não é? Diria até que parece argumento de sitcom, mas está bem longe disso. Depois de ver a história de Martín (Javier Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala) foi que fiquei fascinado de verdade pelo cinema argentino. O rapaz, que beirava a depressão enfurnado em seu apartamento, acaba conhecendo ela, uma moça simples que trabalhava como vitrinista numa loja. É a partir do encontro deles – que estavam separados apenas por uma medianera (parede lateral do prédio) – que a trajetória de suas vidas muda bem no meio  ao caos urbano da Grande Buenos Aires. O filme funciona bem com uma grande metáfora de quem vive na correria de uma cidade grande e acaba deixando a vida passar sem perceber.

#2 Yo Soy Sola [ARG/2007]

yo soy sola

Esse está bem longe de ser um filme fantástico. Longe mesmo. Bem longe – só pra ficar claro – mas mesmo assim não perde seu mérito. A película de Tatiana Mereñuk trata da felicidade do ponto de vista feminino e todos os conflitos que boa parte das mulheres um dia provavelmente enfrentarão ao longo da vida. Através de quatro protagonistas, a história retrata angústias sobre escolhas profissionais, casamento, família, filhos, amizade, e vários temas cotidianos. Pra mim o mérito do filme está mesmo em fazer questionar: que modelo de felicidade é esse? Se tiver a fim de refletir, esse é um bom filme.

#3 Un cuento Chino [ARG/2011]

un cuento chino

Com licença que agora vou começar a sessão Darín. Pra mim, falar de cinema argentino sem falar do Darín, é o mesmo que falar de Romeu sem Julieta, Claudinho sem Bochecha, ? sou eu assim sem você ?. Este foi o último filme dele que vi no cinema e lembro como se fosse ontem que saí da sala meio boquiaberto com aquela forma de contar uma história completamente non-sense, mas completamente cheia de sentido. Como eu disse, aqui não tem filmes clichês e acho que “Um cuento chino” é o melhor exemplo disso, afinal, o que dizer de uma história em que um dono de uma loja de ferragens rabugento (Ricardo Darín) simplesmente se vê com um imigrante chinês que foi jogado de um carro e é incapaz de se comunicar em espanhol?! É uma brilhante história sobre o absurdo.

#4 El Secreto de sus ojos [ARG/2010]

o segredo dos seus olhos

Está aí mais um filme que não achei fantástico, mas novamente, o roteiro e a narrativa me fisgaram. E sim, é mais um filme com o Darín (e se reclamar faço um top 10 só com filmes dele hahaha), nele, Benjamin Espósito (Ricardo Darín) é um funcionário aposentado de um tribunal que decide escrever um romance sobre um dos casos investigados por ele no passado. É em meio a essa trama, que às vezes beira à meta-linguagem, que ele revive vários traumas e histórias de seu passado que acabam levando-o finalmente a desvendar o crime que estava engavetado.

#5 XXY [ARG/2007]

XXY

Aqui o Darín é coadjuvante, o que não o torna menos importante, claro. A história gira em torno de sua filha Alex (ou seria filho?). Interpretada por Inés Efron, a protagonista é uma garota hermafrodita, ou seja, ela nasceu com características genitais masculinas e femininas. É em torno deste dilema, considerado um tabu aqui na América Latina (e no mundo, também, claro), que a história se desenvolve. O tema é denso, mas como eu disse, é abordado de forma leve. A reviravolta na história acontece quando estabilidade da família dela, que já havia se mudado para um vilarejo no litoral do Uruguai, começa a ser abalada por suas descobertas sexuais em plena puberdade. É um filme que abre uma boa oportunidade pra refletir sobre questões de gênero e empatia.

#6 La espera [CHL/2011]

la espera

Talvez este seja o filme mais pesado. Meio perturbador até, eu diria. Talvez por ser homem me tenha faltado a sensibilidade para entender de verdade o drama pelo qual Natalia (Maria de Los Angeles Garcia), uma adolescente chilena que engravida do namorado Rodrigo (Diego Ruiz) e quer abortar, está passando. Afinal, tal qual aqui no Brasil, o aborto ainda é criminalizado no Chile e o filme tenta tirar as coisas do lugar ao provocar uma reflexão sobre mais um tabu típico da América Latina e, mais uma vez, envolvendo questões de gênero, ou seja, mais uma oportunidade para refletir e gerar empatia.

#7 Contracorriente [PER/2009]

contracorriente

Se tivesse que resumir esse filme em uma palavra eu diria apenas uma: sensibilidade. Eu comentei lá no começo sobre a leveza ao tratar de temas tão densos e este é um exemplo brilhante. Numa vila de pescadores isolada no litoral peruano, Miguel (Cristian Mercado) é casado com Mariela (Tatiana Astengo) mas, ao mesmo tempo, é apaixonado por Santiago (Manolo Cardona). E a história que tinha tudo pra ser um comédia a julgar pela capa mesmo, ou um dramalhão, a julgar pelo argumento, se transforma numa história meio “Dona Flor e seus dois maridos”. A diferença é que, neste caso, não é Dona Flor que tem dois maridos, é o Miguel que, ao mesmo tempo em que sonha em ter uma família estável com filhos, também quer viver ao lado de Santiago, conhecido pelos moradores como “Príncipe Encantado”. E, sem querer soltar spoiler, mas já soltando, Miguel tem que lidar com seus próprios conflitos internos e externos para lidar com sua sexualidade diante das pessoas que ama, da família e do vilarejo onde vive. Volto a dizer que, dessa lista, esse é filme mais sensível que aborda mais um tabu recorrente da América Latina através de um drama denso e leve ao mesmo tempo.

#8 Quinceañera [EUA/2006]

meus quinze anos

Ok, eu disse que a lista era de filmes latinos, mas por que um filme norte-americano tá aqui? Fácil. O filme foi realmente produzido nos Estados Unidos, mas trata da história de uma família mexicana residente em Los Angeles (EUA) e dado que a temática da imigração também é pauta comum por aqui, resolvi incluí-lo. A história se passa no seio da família de Magdalena (Emily Rios), uma adolescente que está prestes a completar 15 anos, data que será comemorada durante a festa de debutante (por isso o nome “Quinceañera”, como é chamada a festa de debutante em espanhol). O ponto de virada da história é quando a menina, que sonhava com sua festa desde criança, engravida e é posta pra fora de casa pelos pais, extremamente religiosos e que não admitem a perda da virgindade da filha. Ela se vê completamente frustrada e vai morar com o avô (Chalo González), bem mais tolerante que seus pais, e lá passa a formar um novo núcleo familiar junto com seu primo Carlos (Jesse Garcia), que é gay. Serei repetitivo, mas digo de novo, é mais um filme que coloca em evidência outro tabu latino: a religiosidade e os conflitos com a sexualidade.

#9 Amores Perros [MEX/2000]

amores perros

Uma obra-prima da narrativa. O filme produzido por Iñarritu com roteiro de Guillermo Ariaga é inclusive conhecido como o “Pulp Fiction” mexicano, ou seja, não é pra qualquer um ter o roteiro comparado ao filme mais célebre de Tarantino, né? E o filme faz jus à comparação. Ele conta como histórias que pareciam desconexas logo no começo, estão intimamente ligadas por um acidente de carro em plena Cidade do México. Depois disso, a vida de Octavio (Gael García Bernal), um adolescente que queria fugir com a noiva do irmão mais velho, Valeria (Goya Toledo) uma modelo que queria casar com um editor de uma revista importante e um ex-guerrilheiro comunista (Emilio Echevarría) têm seus destinos entrelaçados. Aqui não temos grandes reflexões como na maioria, mas é o melhor roteiro em disparada.

#10 Como água para chocolate [MEX/1992]

como agua para chocolate

Por último, mas não menos importante, deixei um filme que poderia ser bem atraente para quem é leitor do SNT e acompanha literatura. O filme foi baseado no livro homônimo de Laura Esquivel que também foi roteirista da obra para o cinema. A história é centrada em Tita (Lumi Cavazos) uma jovem que nasceu num rancho em meio a uma família tradicional bem provinciana, no interior do México, e fala das barreiras que ela teve que ultrapassar, especialmente em relação à sua mãe, para poder ficar finalmente com o homem que ela ama. Apesar de não ser tão brilhante assim, e ter atuações horríveis como a de Marco Leonardi que faz Pedro – par de Tita – o filme vale pela sua adaptação e pelo viés literário que é evidente em toda sua narrativa, especialmente com as metáforas à cozinha e às comidas.

 

Espalhe por aí:

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18 comentários em “10 filmes latinos para ver na Netflix

  1. Pingback: [SNT #4] Los vecinos - Subindo no Telhado

  2. Eloy te lo por la brillante elección de las películas. Te garantizo que voy a ver todas. 😉

      • Corrección: Te lo felicito*

        Rpz, a experiência tem sido muito gratificante… Iniciei por ‘Medianeras’. Não tem como não gostar. Um filme leve, mas com um enredo complexo com abertura à profundas provocativas e reflexões. O tipo de filme que gosto.
        Aproveitei o feriado e emendei com ‘Los secretos de sus ojos’. Este dispensa comentário. Sem dúvida o melhor filme que vi este ano – até o momento. Obrigado pela indicação! Ele entrou para a minha lista de filmes que devem ser visto mais de umas vezes 😉
        Abraço!

        • Que massa. Que bom que vocês gostaram!

          Pelo visto acho que só eu nesse mundo achei “El secreto de sus ojos” meio arrastado no meio, apesar de ter achado um grande filme com uma trama e roteiro ótimos. No meu caso, acho que “Medianeras” é o que eu preciso ver mais vezes porque é exatamente como eu gosto tb: leve, complexo e reflexivo ao mesmo tempo. Depois vê “Contracorriente”, não é argentino nem tem o Darín, mas é segue essa mesma linha de combinar leveza e reflexão.

          Abraço.

  3. Olá Eloy, bem legal sua lista. Fiquei com vontade de ver alguns. Só vi Un cuento chino e El secreto de sus ojos e gostei muito de ambos. O primeiro por ser engraçado e ser com Ricardo Darín, o segundo por ser com o Ricardo Darín (rs) e ser espetacular. Fiquei muito tempo com o filme na cabeça. Vou procurar os outros que tu falou. Abraço.

    • Oi, Alan. Veja mesmo. Sou suspeito pra falar do Darín pq não consigo achar nada que ele faz ruim hahahaha. Aliás, se vir algum dele que não esteja nessa lista, pfvr, me diga aí que eu vou procurar pra assistir!

  4. Todo meu amor para Medianeras <3
    Sempre tenho vontade de ver esse filme quando esbarro nele na Netflix.
    Essa lista está sucesso!

    • Obrigado! Adorei de vdd fazer essa lista. Parece que agora saiu uma leva de filmes nacionais bem bons por lá, to pensando tb em fazer uma e aceito sempre indicações! 😀

  5. Ai, gente, que lista maravilhosa é esse? Você acabou de deixar uma pessoa de férias feliz! haha Já tenho o que assistir! ;D Medianeiras é tão lindo!
    Beijos! Amei!

    • Que massa então, obrigado! Já cumpri meu papel na terra então hahahaha. Depois conta quais os outros vc tb gostou. 😉

  6. Medianeras, O Segredo dos Seus Olhos e Um Conto Chinês são mesmo excelentes. Amores Perros também é demais.

    XXY e La Espera infelizmente parece que saíram do catálogo.

    Adicionei Contracorriente na minha lista para assistir!

    • poxa, sério? Mas mesmo tendo saído, fica o título e acho que vale a pena dar uma procurada pra baixar ou assistir por outro meio. Contracorriente é daqueles que você não esquece, vai por mim! 😀

    • Opa, gostei da dica Alissa.
      Obrigada!
      bjão!